sábado, 26 de setembro de 2009

Do "Expresso"

Polícias denunciam pressões para "caça à multa"

Elementos da 5ª Divisão de Lisboa da PSP queixam-se de estarem a ser forçados a aumentar o número de autuações, sob ameaça de mudança de secção.

Lusa
22:44 Sexta-feira, 25 de Set de 2009

Elementos da 5ª Divisão de Lisboa da PSP (Penha de França) queixam-se de estarem a ser forçados pelo 2º Comandante a aumentar o número de autuações, sob ameaça de mudança de secção se não se destacarem nas estatísticas mensais.
Esta situação foi hoje relatada à agência Lusa por elementos daquela divisão, que pediram para não serem identificados por temerem represálias, e confirmada pelo presidente do Sindicato Unificado de Polícia, guarda Peixoto Rodrigues, que desempenha funções precisamente na 5ª Divisão.
A Lusa tentou contactar o 2º Comandante da 5ª Divisão, comissário Carvalho da Silva, para esclarecer estas acusações, bem como o Comandante, Subintendente Rocha da Silva, mas ambos já não se encontravam, só voltando na segunda-feira.
Sobre este assunto, a Direcção Nacional da PSP, através do gabinete de Relações Públicas, declarou à Lusa que "não estão definidos 'rankings' na Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial (EIFP), não foram proferidas ameaças e não estão consignados prémios".
"São apenas definidas operações a nível de EIFP, que são depois executadas pelas diferentes Equipas de Intervenção Rápida", referiu a Direcção Nacional reforçando que "invoca o facto das variáveis detenções ou autuações não serem consideradas para avaliar qualquer elemento policial".
"Face às movimentações de recursos humanos que se verificaram na IEFP da 5ª Divisão, nomeadamente a saída de elementos daquela Esquadra para o Comando Metropolitano do Porto, o comandante daquela divisão, após a redefinição das Equipas de Intervenção Rápida reuniu esta semana com todo o efectivo no sentido de clarificar as missões que estão consignadas àquelas equipas e os deveres inerentes ao serviço", adianta a Direcção Nacional.
Segundo a Direcção Nacional, "nesta reunião ficou clarificado o âmbito da missão, nomeadamente a prossecução de operações policiais e o desenvolvimento de relatórios no fim do serviço que determinarão uma adequada percepção do trabalho desenvolvido durante o turno".
"Código de Conduta"
De acordo com o relato feito à Lusa por elementos daquela Divisão, está a ser implantado um denominado "Código de Conduta" pelo 2º Comandante e criado um "ranking" mensal onde só têm ascensão na carreira e "prémios de produtividade" os elementos que passarem mais multas. A partir de segunda-feira esta situação estende-se também aos polícias que fizerem mais detenções.
Relataram que as pessoas estão a ser informadas individualmente pelo próprio Comissário Carvalho da Silva, em conversa no seu gabinete, a sós ou acompanhados pelo chefe de Secção. Quando não atingem os objectivos alegadamente estabelecidos, dizem estar a ser chamados e confrontados com ameaças de saída da Secção onde se encontram ou saída da Divisão.
"Os graduados são obrigados a chamar diariamente à atenção os agentes para que efectuem mais autuações", disse uma das fontes, acrescentando que há dias em que são feitas operações STOP de manhã e outra à tarde.
As mesmas fontes adiantaram que estes procedimentos estão a ser transmitidos também aos novos elementos que chegam à 5ª Divisão, "para que sintam as mudanças e aprendam que têm de autuar".
Segundo os testemunhos, esta situação está a criar "um grave mal-estar" entre oficiais, subchefes e agentes, que receiam resistir às ordens de aumentar o nível de autuações e de detenções.
Sindicato Unificado de Polícia contra "forma de actuação"
Em declarações à Lusa, o presidente do Sindicato Unificado de Polícia, Peixoto Rodrigues, confirmou a existência destas pressões para aumentar a quantidade de multas e especificou que estas situações sucedem mais nas Equipas de Intervenção e Fiscalização Policial, relativamente às Secções de Intervenção Rápida.
Peixoto Rodrigues afirmou que os elementos da PSP "não podem aceitar estas situações, que estão a gerar um grande desgaste no seio do pessoal da 5ª Divisão" e que o Sindicato Unificado de Polícia "está contra esta forma de actuação".
O dirigente sindical relatou que a argumentação para estas listas é a falta de produtividade, mas realçou que a produtividade não se mede por autuações.
Peixoto Rodrigues sublinhou que a primeira função policial é prevenir e combater a criminalidade, num efectivo policiamento de proximidade para com o cidadão, e não a caça à multa.

2 comentários:

  1. Tenho noção do trabalho com objectivos? Pois tenho, em especial no que concerne a atribuir valor ao dinheiro gasto pelos contribuintes na polícia, para que ela faça diminuir a sinistralidade rodoviária por exemplo.
    Em todo as organizações tem que existir ordem e disciplina, aqui refiro-me à disciplina funcional, tal como num hospital. Não compete aos maqueiros definir o n.º de operações mas sim transportar os doentes, na polícia os agentes também não devem definir os métodos de trabalho muito menos o timing da sua execução, já nos basta a discricionariedade da sua acção quando actuam sós sem supervisão, decidindo se autuam ou não se sabendo bem com que critérios.
    Pense comigo, cada vez há mais condutores a conduzir com álcool, não poderá ser estabelecido como objectivo de uma operação preventiva mandar parar 30 carros e os condutores terem que soprar ao "balão". Se todos derem zero a missão (equipa) cumpriu os objectivos e não "caçou" multas. Mas se apanhar algum isso é grave?
    E as vitimas do condutor em caso de acidente? O seguro não paga.
    Os oficiais de polícia têm formação superior sabem bem o que fazem, mas como em tudo nós somos sempre melhores a fazer (criticar) o trabalho dos outros que o nosso.
    Cumprimentos,
    Luís

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  2. Sou plural, o meu espaço é plural. Daí aceitar comentários que não coincidam, no todo ou em parte, com a minha visão das coisas, desde que obedeçam a critérios e valores.

    Foi o caso!

    E sabemos - eu e o Luís - que falamos de coisas completamente diferentes. E não me venham dizer que não há discricionaridade!

    Eu acredito nos bons polícias como em todos os bons profissionais. Tout court!

    Mas, nem de propósito, estive esta noite até às duas da manhã, em conversa de grupo, onde se encontravam dois agentes da polícia (e não subalternos, graduados)a quem falei neste problema. Estranhamente, coincidiram com a minha visão do problema, estamos falados!

    Por outro lado, limitei-me a transcrever, sem qualquer comentário, uma notícia de um órgão de comunicação íntegro, que citava fonte da corporação...

    E, para que conste, sou responsável, cumpro as leis porque defendo que são elas que nos defendem, sigo até um pouco o conceito de Corneille quando escreveu: "As leis conservam autoridade, não porque sejam justas, mas porque são leis".

    Mas, apesar disso, já senti o voyeurismo de alguns agentes, daqueles que se escondem atrás de um arbusto ou de um carro para nos saltarem para a frente do carro se ainda arrancamos a colocar o cinto (uma mera marcha-atrás a sair do estacionamento, está a ver?), ou se pegamos no telemóvel que tocou para vermos se devemos encostar o carro para atender ou se, pura e simplesmente, abortamos a chamada.

    Por isso, eu falo da minha experiência. E, como, pelos vistos, há outras experiências como a minha, apenas transcrevi a notícia, repito, de um jornal íntegro. Porque, se fosse a falar das minhas experiências - e não só em Portugal - não teria sido totalmente simpático. Embora nunca - mas nunca - tenha faltado ao respeito à autoridade e, por outro lado, seja tolerante com a humanidade, os seus humores, as suas deficiências de formação, até uma noite mal dormida... ou uma ordem cínica que, simplesmente, um polícia tem de cumprir se quiser continuar na esquadra mais perto de casa...

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