Há atitudes inexplicáveis na vida. Desculpam-se, muitas
vezes, com a juventude de quem as toma; ficamos atónitos quando elas partem de
quem é responsável pela imagem de uma instituição e onde a juventude deixa de fazer sentido como ressalva.
A imagem insólita de um árbitro caído por terra, depois de
um empurrão de um “armário” como é Luisão do Benfica, espanta pela crueza de um
gesto irreflectido de um capitão de equipa, embora não creia que a “agressão”
fosse de molde a explicar tanto espalhafato. No entanto, quando não contamos,
um simples toque pode desencadear um desmaio momentâneo. E, se há coisa com que
um árbitro não conta, desde logo num jogo particular, e porque está concentrado
a olhar o cartão amarelo que vai exibir, é que lhe caia o céu – ou o inferno –
em cima.
Arrumada a questão com a suspensão do jogo, entram em cena
outros intérpretes da “verdade” circunstancial.
Confesso que, por princípio, duvido de pessoas que vendem a
alma e os ideais. Se um sindicalista se passa para a trincheira do patrão, como
se, por exemplo, Carvalho da Silva aceitasse um convite para administrador de
uma grande empresa, eu tenho desde logo de duvidar dos ideais que alegadamente
defendeu durante os tempos em que apenas pareceu defender os trabalhadores. Ele
passou a defender o patrão, por certo a troco de uma subvenção assinalável,
atendendo que está no topo da indústria do futebol no país.
António Carraça, pelo que disse do árbitro, conquistou o
direito de ser considerado ridículo. E estou a chamar-lhe ridículo com todas as
letras e todos os acentos, tónicos e átonos.
Em vez de pedir desculpa, em nome do atleta e do clube que
lhe paga, atirou ainda mais achas para a fogueira, apelidando de patético o
comportamento do árbitro alemão agredido. Não entendem estes agentes
desportivos que, defendendo a violência, estão a abrir a porta a que essa
violência se institucionalize?
Há muitas formas de ultrapassar gestos e atitudes, sobretudo
se se fizer com verdade. O primeiro passo é reconhecer o erro. Branquear a
atitude de Luisão é ir pelo caminho errado. É defender a violência no desporto.
Para finalizar, uma
pergunta: sendo Luisão um atleta experiente, com muitos anos de competição ao
mais alto nível, o que o levou, num jogo que não contava para nada e em que o
cachet da participação já estava depositado na conta independentemente do
resultado, a cometer erro tão crasso? Será que este gesto tem por detrás outros
contornos, reveladores do estado de espírito do Benfica para a próxima Liga? É
assim tanto e tão grande o desvario que se plantou na equipa ao ponto de já nem
o capitão saber comportar-se? A época ainda nem começou e já se nota que algo
está a mais na cabeça dos jogadores do Benfica? Até que ponto o treinador Jorge
Jesus é também responsável? Ou Luís Filipe Vieira? Terá Luisão escolhido este
momento para revelar ao mundo o (seu) desconforto no seio do grupo de trabalho?
E o que revelam as gargalhadas de escárnio de atletas e do próprio Jorge Jesus,
nos momentos seguintes ao insólito, com palavras ditas de boca tapada mas com evidente
gozo? Que falta de decoro e de classe!
Uma coisa é certa: quem verdadeiramente sai beliscado com
esta imagem é o futebol português. Fora só o Benfica e eu estaria placidamente
gozando no sofá. Mas esta imagem também me diz respeito como português!
Em tempo: Comparar o gesto de Luisão com o assertivo dedo de Jorge Jesus dirigido a Ola John pode ter algum fundamento e suporta em tese o que escrevi acima.
ResponderEliminarA diferença está em José Mourinho, que assumiu publicamente o erro face a Tito Vilanova.