A recente polémica contra Isabel Jonet e as suas
declarações, ditas controversas, atingiu o paroxismo. Um paroxismo todo
português, alimentado por quem, à laia de não ter mais com que se entreter,
passa os dias e as noites a insultar quem, ainda, faz alguma coisa útil pela
sociedade, quem, no fundo, ainda consegue ter uma atitude cívica e de mérito,
manifestamente a favor dos mais desfavorecidos e perseguidos pelos erros de
alguns que se atrevem a ignorar aquilo que fizeram para que a sociedade
portuguesa esteja no estado em que está.
Foi demasiada estupidez e hipocrisia, juntas.
As declarações de Isabel Jonet até podem ter sido desafortunadas.
Mas, naquele contexto redutor em que todos vamos caindo em sociedade, o de
considerar infeliz a manifestação da verdade quando dói.
E com custos elevados!
Lembro, neste momento, as declarações do Prof. José Eduardo
Pinto da Costa, quando, após o desastre da Ponte de Entre-os-Rios, informou que
as pessoas deviam habituar-se à evidência de haver cadáveres do desastre que
jamais apareceriam, o trabalho social deveria ser, então, o de preparar as
famílias para essa contingência de não poderem fazer normalmente o luto.
Infelizes declarações, na visão de algum povo e dos
políticos, despoletou a muito mais infeliz destituição do cargo que Pinto da
Costa exercia para o Estado.
Mas a verdade aí está: a maior parte dos cadáveres não
apareceu e as pessoas continuam indefesas perante a inevitabilidade de não
poderem enterrar os seus, não podendo ultrapassar o luto.
Neste país, então como agora e sempre, é proibido dizer a
verdade, sobretudo se a verdade for dolorosa. Ou antipática.
E, como não aprendemos as lições, há que demitir a Dr.ª
Isabel Jonet em nome de uma certa hipocrisia de alegados valores morais.
Às tantas, aqueles que pugnam por estas destituições, são os
mesmos que consideram coitadinho um tal Anders Breivik, norueguês e assassino
confesso, que vem agora lamentar-se, numa carta de 27 páginas, de que a prisão
de Ila, onde cumpre pena, não responde às exigências do seu “mérito” assassino,
apesar de a sua “habitação” prisional ter três divisões: quarto, escritório e
ginásio. Só que S. Ex.ª não quer viver numa prisão que “abriga alguns dos mais
perigosos homens” da Noruega. Mas o que é ele senão um dos mais perigosos “homens”
da Noruega?!
Ele, que matou indiscriminadamente dezenas de jovens, em gesto
inconcebível e hediondo numa sociedade de valores, queixa-se ainda de que as
condições da prisão “violam os direitos do homem” porque a manteiga é pouca, o
café chega por vezes frio às suas “distintas” mãos e as algemas que tem de usar
em certas transferências são “muito afiadas”…
Deste coitadinho temos pena! Muita pena, vítima que é da
sociedade.
Aos que ainda fazem alguma coisa pelo bem comum ou dizem a
verdade que temos de ouvir, embora seja aquela que não desejássemos por ser
incómoda, demitimo-los ou assassinamo-los moralmente. Com a maior desfaçatez e
falta de carácter.
Que infelizes!
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