terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ainda os faxes do Freeport

Altamente confidencial
17 de Dezembro de 2001
Ric Dattani
Freeport plc
Cc. Gary Dawnson

Caro Ric,
Na sequência da nossa conversa telefónica a semana passada, e tendo acabado de voltar de Portugal onde estive 5 dias, posso fazer os seguintes comentários que espero que sejam úteis para si.

1. Um Estudo de Impacto Ambiental é um trabalho bastante substancial (de peso)que envolve várias autoridades. É de conteúdo principalmente técnico.

2. Se estamos face a uma possível rejeição (chumbo), é pouco provável ser possível
inverter uma tal decisão seja em que circunstância for, a dois dias da sua rejeição
(chumbo) formal por parte do Ministro do Ambiente. (Antes do suborno)



3. O Ministro do Ambiente, Eng.º José Sócrates, é considerado como um dos pilares do
Governo PS e é tido como a integridade em pessoa. (Confirmado por outros)

4. Os efeitos dos acontecimentos do fim de semana, com os revezes sofridos pelo PS,
nomeadamente nas eleições autárquicas, incluindo Lisboa, e a demissão do Governo
Guterres significam que Sócrates deixou de ser Ministro do Ambiente e que vai haver
um compasso de espera (empate, “stall” no texto original) de quatro ou cinco meses
até que seja eleito um novo Governo e seja nomeado um novo ministro, vistos os
resultados de novas eleições.

5. É óbvio que o encorajo / sugiro-lhe que apure as razões técnicas da rejeição / do
chumbo do seu EIA e que determine as áreas em relação às quais as diferenças podem
ser esbatidas, ou em relação às quais se podem lançar pontes que colmatem as
diferenças.

6. Encorajo-o / sugiro-lhe que sonde / tome o pulso / apalpe o terreno fora da equipa
local por forma a perceber / compreender / determinar / de forma independente o
que é que pode ter corrido mal – e ver / verificar se tal vai ao encontro das
informações que lhe são fornecidas pela equipa local. Uma visita pessoal à DRAOT ou a
quaisquer autoridades que tenham tido a sua palavra a dizer / que tenham tido peso /
pode frequentemente render dividendos na compreensão do problema.

A mudança política irá atrasar o processo nos seus termos na parte de planeamento e meio ambiente, mas pode-se /deve-se despender um tempo precioso no determinar das causas de rejeição e nas medidas de correcção aceitáveis.

O conteúdo desta comunicação é confidencial para aqueles a quem é dirigida. A sua finalidade é (tão só) partilhar experiências de mercado com um colega membro PUKCC num sector equivalente
Cumprimentos
Keith payne

Jonathan, este é o fulano que me telefonou e sabe do suborno de 2
milhões de libras, sublinhei algumas partes interessantes a partir do
ponto 4. Se o parlamento é dissolvido até às eleições, o Secretário
de Estado não pode aprovar nem rejeitar nada.
Ric
Nota: O "bold itálico" é a transcrição de notas escritas à mão por Ric Dattani, segundo refere a TVI:
Fax reenviado com notas escritas à mão

Rick Dattani, quem recebeu o fax, reenvia-o para Jonathan Rawnsley - também administrador na empresa, mas superior na hierarquia, segundo a TVI -, e acrescenta anotações manuscritas, com explícita menção de suborno no final do fax: "Este é o fulano que me telefonou e sabe do suborno de 2 milhões de libras, sublinhei algumas partes interessantes a partir do ponto 4. Se o parlamento é dissolvido até às eleições, o Secretário de Estado não pode aprovar nem rejeitar nada".

De salientar que, Dattani acrescenta outras duas notas, também à mão, no meio do texto: "antes do suborno" e "confirmado por outros".

A primeira foi acrescentada à frente do ponto 2 em que se refere: "Se estamos face a uma possível rejeição (chumbo), é pouco provável ser possível inverter uma tal decisão seja em que circunstância for, a dois dias da sua rejeição (chumbo) formal por parte do Ministro do Ambiente."

Já a segunda nota foi colocada no final do ponto 3, já citado anteriormente.
Segundo o site da TVI, "a Polícia inglesa deu importância ao fax, a ponto de interrogar várias pessoas sobre o mesmo, mais especificamente sobre a nota de rodapé escrita à mão, a fim de saber a quem se destinava os 2 milhões de libras".
A TVI diz ainda ter tentado obter reacções do actual primeiro-ministro, José Sócrates, e dos seus secretários de Estado na época, Pedro Silva Pereira (Ordenamento do Território) e Rui Gonçalves (Ambiente), mas não obteve resposta.

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