Por princípio, gosto do PÚBLICO.
E, também por princípio, desconfio dos provedores, aqueles senhores, alegadamente supra partes, a quem podemos dirigir-nos “para defendermos os nossos direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos”.
Ou, se não desconfio, equaciono amiúde a seu papel de regulador.
Muita parra e pouca uva!
Mas, porque é comum dizer-se que somos mais exigentes com aquilo (ou aqueles) de que (quem) gostamos, confesso que sou exigente com este jornal.
Vamos, então, ao n.º 7047 desta publicação, nas bancas em 19 de Julho, domingo.
Pelos vistos, os trabalhos superlativos deste jornal obedecem – quase todos – ao Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses e ao Livro de Estilo do PÚBLICO.
O que não tem nada de transcendente! É o mínimo que poderia exigir-se a um jornalista.
Mas o Senhor Provedor do leitor daquele periódico encontrou dois pecados infames. “O Provedor sentiu o mesmo desconforto do leitor”, escreveu o Sr. Joaquim Vieira, detentor do título de defensor dos meus direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos, naquele jornal.
Para ele, uma jornalista pode pagar uma viagem aos Estados Unidos, pode comprar no site da Amazon um Kindle (que, pelos vistos, é um leitor de e-books, livros electrónicos para quem sabe), mas pode questionar-se se ela vier a escrever que adora o produto. Porque pode estar a ser parcial. Ainda que obedeça às disposições sobre a objectividade jornalística (“pluralidade de fontes, investigação cuidada”), como determina o Livro de Estilo.
Claro que a jornalista em causa argumentou – e bem – com a sua colaboração ao nível das novas tecnologias, soube demonstrar que sabe do que fala, e mostra outro aspecto muito importante da nova informação: há gente que, em aproveitamento peregrino das portas franqueadas de alguns meios de comunicação, se permite criticar, se dá ao luxo de dar lições de ética, se assume como reserva da moral de uma sociedade cada vez mais centrada no umbigo de cada um.
Tenho por princípio ler todos os comentários às notícias que leio online. E pasmo com a desfaçatez de tantos, com a ingenuidade de uns poucos, com a cretinice da maior parte, que sabe tudo, perora sobre tudo e crucifica, alarvemente, quem faz do jornalismo a sua missão.
Mas o pior é quando um Provedor do Leitor gasta três quartos de página a brincar às grandes causas por causa de um Kindle, que, pelos vistos, é um belíssimo e aconselhável acessório audiovisual.
Já agora, por que razão o Senhor Provedor se preocupa tanto com a definição dos “targets” das revistas para crianças, dando-lhe mais crédito do que à jornalista que defende a sua posição (e dá a mão à palmatória por um erro)?
Não seria aconselhável que o Provedor instigasse a leitora a usar o termo “alvo”? É que “target”, não obstante o abuso de termos importados, a caminho da institucionalização definitiva, não é português…
Ah! Vou ler o Livro de Estilo! Pode ser que aconselhem o uso de termos ingleses, mesmo quando exista um termo mais adequado em vernáculo.
Gostei, no entanto, da “caixa” sobre a concordância – ou falta dela – em alguns escritos do jornal, embora me pareça abusiva e leviana a forma como trata os “distraídos”: “Por que será que, tão amiúde, os jornalistas não acertam na concordância entre sujeito e predicado em casos de género (masculino / feminino) e quantidade (singular / plural)? Parece que suspenderam a frase a meio para tomar um café ou fumar um cigarro e, no regresso, continuaram a escrever sem ler o que estava atrás…”
Provedores?!
Não, obrigado!
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