segunda-feira, 9 de abril de 2012

Farsantes


Um sacripanta (porque bissectriz de dois catetos a que em alemão poderíamos chamar Schuft -patife e Scheinheilige - beato) de um ex-governante socialista nesta área da Segurança Social, um generoso deputado comunista, uma apócrifa (ninguém se chama Mariana Aiveca) deputada do Bloco de Esquerda e alguns outros sindicalistas (a Senhora Aiveca pertence também aos quadros directivos da Intersindical) produziram declarações sobre a recente deliberação do Conselho de Ministros, consubstanciada em normativo legal, de suspender as "reformas antecipadas" aos trabalhadores abrangidos pela (beneficiários da) Segurança Social. Desta feita, os funcionários do Estado escaparam, porque ao Estado interessa que se vão reformando, em nome do sacrossanto mandamento que ordena o emagrecimento da Administração Pública.
Que me recorde, quando o executivo de Sócrates impôs tal medida, praticamente por um prazo idêntico de ano e meio, mais mês menos mês, não vislumbrei tal sanha iconoclasta. Não recordo e, não obstante, fui vítima dessa medida sem poder fugir-lhe, ainda que já me parecessem justos e legítimos os argumentos agora utilizados, sem que ninguém, no entanto e à altura, tivesse pugnado nas instâncias próprias por esses argumentos, fossem deputados, sindicalistas e afins, governantes e governadores, ou Presidente da República, que, tal como agora, se limitou a promulgar o diploma, não tão à pressa e à socapa como há dias, como se tivesse consciência de que estava a assaltar-nos e convindo que já não dava para mandar sofrer mais. Assaltava-se, e pronto! Sem dor! Sim, porque se trata de um assalto!
O que parece, entretanto, diferente nas críticas a esta última medida é que a grande preocupação dos políticos me pareceu ser a da publicidade, mais do que sonegação de um direito.
Tocaram ao de leve nessa sonegação, por dever de ofício (noblesse do cargo e de estatuto oblige), mas onde vertem toda a sua imensa, caudalosa e inqualificável raiva é sobre o silêncio (leia-se secretismo, segundo a nomenclatura PS) do Governo, no comunicado e na conferência de imprensa que se seguiram à reunião do Conselho de Ministros onde se decidiu esta medida atentatória dos direitos de quem passou uma vida activa de trabalho a descontar os seus impostos e a fazer as deduções para os esquemas de alegada segurança social, e se vê, inopinadamente, preso à política assassina de um certo capitalismo selvagem, agora e sempre desrespeitador, porque sempre protegido pelos poderes, e onde quem paga a crise é também quem paga, em trabalho, os Mercedes, os Hummers, os BMW e os Porsche dessa gente auto-intitulada de empresários... Os mesmos de sempre donos do capital passam incólumes pelos seus investimentos de risco, os seus peculatos de especulação em especulação. Ou não houvesse um povo inteiro a quem sugar mais uns cobres!
É por isso que esta casta ma enoja. Carregados de vaidades, cheios de privilégios, arrivistas que nunca fizeram mais nada do que puir calças nas cadeiras das sedes partidárias, estudar palavras caras e cultivar ideias redondas para comícios, insultar a boa-fé do povo, ascendem na política e nos interesses pessoais ao sabor da sua arrogância, da sua ambição desmedida. Fruto dessa práxis, cometem erros jacobinos, peregrinos, usam aventais em reuniões secretas e influências às claras, e, quando dá para o torto, escondem-se atrás da sua impunidade e vão para Paris cultivar o esquecimento e preparar o regresso.
Nesse capítulo, o da luta pelo poder e, depois, pela sua manutenção, são todos iguais: nenhum mais sério que o outro, apenas o tom muda. Já não podemos fazer contas, as novas gerações entram - quando entram - no mercado de trabalho sem saberem o que lhes reserva a vida, os descontos que fazem e os impostos que pagam. O mais certo é irem cair no poço sem fundo da incompetência dos políticos, eles que, em matéria de gula fiscal, são - até nisso - idênticos. Entre uns e outros, venha o diabo e escolha!

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