Para além de irrecusável bom gosto literário, Miguel Sousa Tavares
ainda cultiva esse bom gosto em outras áreas: é portista, dos não alinhados mas
de gema, e “opta por escrever as suas
crónicas na ortografia antiga”. Deus o salve, mau grado algumas injustiças
que, em outros tempos, proferiu contra a classe dos professores, numa daquelas
guerras que nunca entendi da sua parte. Ou não fossem todas as guerras
incompreensíveis, porque, liminarmente, sectárias.
Vem esta do bom gosto á colação de, não sendo unanimista
relativamente à figura e outras figuras de MST, comungo com ele em outras
situações, desde logo a de ser portista e a de escrever em Português (havendo
quem lhe chame, falaciosamente, Português europeu, PT-PT, ou outro qualquer
epíteto, eu teimo em chamar à ortografia em que escrevo, simplesmente,
Português).
Sou fã incondicional das suas crónicas, mesmo quando torço o
nariz durante a sua leitura, e a NORTADA faz parte dos meus devaneios de
terça-feira. Tanjo a sua prosa e o humor verrinoso com que chicoteia alguns da
praça do futebol, sobretudo se a coerência não é o seu prato mais forte ou, apenas,
não faz parte da sua ementa jornalística.
Apelidar de “comovente” o rol de asneiras de Fernando
Guerra, o cronista da “página ao lado”, é brilhante e nunca me teria passado
pela cabeça denominar comovente uma patetice jurássica daquele tamanho (não se
trata de chamar arcaico ao Fernando Guerra, antigo sou eu… honi soit qui mal y pense). Talvez por não me passar pela cabeça
uma palavra tão “comovente” para tal prosa é que MST é quem é, filho de quem é,
vende o que vende de literatura, de ficção e de ideias, e eu, pobre de mim,
filho do Quim Carrelo e da Alzira, dita dos Rabanhos de Sousa, apenas possuo
esta amostra de blogue com sete seguidores, que nem mesmo sei se são de
verdade, se existem, se têm prazer em segui-lo ou o fazem por caridade
evangélica, se são manifestos ou manifestações virtuais, hologramas de outros “eus”,
também eles “filhos de algo” como eu, mas sem a nobreza e a paternidade
literária e bíblica de MST, que lhe permitem dizer e escrever o que bem lhe
apraz, sempre com seguidores e muitos “esclarecidos” invejosos.
E quem, como eu, leu a seguir a crónica de Fernando Guerra,
em que, pela enésima (para sermos parcimoniosos) vez, faz apelo aos “bloqueios
jurídicos e sublimes conclusões” do Apito Dourado (para quê e porquê, não
entendo, já ninguém leva a sério essa conversa anquilosada, nem o inefável
responsável pela comunicação do Benfica), entende perfeitamente que MST ainda
disse poucas, dizendo tanto num só adjectivo, do seu parceiro de crónicas.
Quase tão bom como MST, só mesmo Luís Afonso, responsável
pelo “Barba e Cabelo” da mesma edição de “A Bola”, quando põe na boca do
barbeiro, esta brilhantíssima conclusão sobre o monumento às conquistas do
Benfica em 1961 e 1962 (é só fazer as contas…): “Temos um monumento às descobertas, um aos restauradores da
independência, porque não havemos de ter um ao Benfica campeão europeu?”.
Em semana da Paixão, para não agudizar – ainda – mais a
crise, estes singulares e deliciosos pedaços de humor enchem a alma de um
cristão… dragão!
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