terça-feira, 3 de abril de 2012

Humor de terça-feira


Para além de irrecusável bom gosto literário, Miguel Sousa Tavares ainda cultiva esse bom gosto em outras áreas: é portista, dos não alinhados mas de gema, e “opta por escrever as suas crónicas na ortografia antiga”. Deus o salve, mau grado algumas injustiças que, em outros tempos, proferiu contra a classe dos professores, numa daquelas guerras que nunca entendi da sua parte. Ou não fossem todas as guerras incompreensíveis, porque, liminarmente, sectárias.

Vem esta do bom gosto á colação de, não sendo unanimista relativamente à figura e outras figuras de MST, comungo com ele em outras situações, desde logo a de ser portista e a de escrever em Português (havendo quem lhe chame, falaciosamente, Português europeu, PT-PT, ou outro qualquer epíteto, eu teimo em chamar à ortografia em que escrevo, simplesmente, Português).

Sou fã incondicional das suas crónicas, mesmo quando torço o nariz durante a sua leitura, e a NORTADA faz parte dos meus devaneios de terça-feira. Tanjo a sua prosa e o humor verrinoso com que chicoteia alguns da praça do futebol, sobretudo se a coerência não é o seu prato mais forte ou, apenas, não faz parte da sua ementa jornalística.

Apelidar de “comovente” o rol de asneiras de Fernando Guerra, o cronista da “página ao lado”, é brilhante e nunca me teria passado pela cabeça denominar comovente uma patetice jurássica daquele tamanho (não se trata de chamar arcaico ao Fernando Guerra, antigo sou eu… honi soit qui mal y pense). Talvez por não me passar pela cabeça uma palavra tão “comovente” para tal prosa é que MST é quem é, filho de quem é, vende o que vende de literatura, de ficção e de ideias, e eu, pobre de mim, filho do Quim Carrelo e da Alzira, dita dos Rabanhos de Sousa, apenas possuo esta amostra de blogue com sete seguidores, que nem mesmo sei se são de verdade, se existem, se têm prazer em segui-lo ou o fazem por caridade evangélica, se são manifestos ou manifestações virtuais, hologramas de outros “eus”, também eles “filhos de algo” como eu, mas sem a nobreza e a paternidade literária e bíblica de MST, que lhe permitem dizer e escrever o que bem lhe apraz, sempre com seguidores e muitos “esclarecidos” invejosos.

E quem, como eu, leu a seguir a crónica de Fernando Guerra, em que, pela enésima (para sermos parcimoniosos) vez, faz apelo aos “bloqueios jurídicos e sublimes conclusões” do Apito Dourado (para quê e porquê, não entendo, já ninguém leva a sério essa conversa anquilosada, nem o inefável responsável pela comunicação do Benfica), entende perfeitamente que MST ainda disse poucas, dizendo tanto num só adjectivo, do seu parceiro de crónicas.

Quase tão bom como MST, só mesmo Luís Afonso, responsável pelo “Barba e Cabelo” da mesma edição de “A Bola”, quando põe na boca do barbeiro, esta brilhantíssima conclusão sobre o monumento às conquistas do Benfica em 1961 e 1962 (é só fazer as contas…): “Temos um monumento às descobertas, um aos restauradores da independência, porque não havemos de ter um ao Benfica campeão europeu?”.

Em semana da Paixão, para não agudizar – ainda – mais a crise, estes singulares e deliciosos pedaços de humor enchem a alma de um cristão… dragão!

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