quarta-feira, 4 de abril de 2012
Quem tramou João Gobern?
Num país e numa sociedade como aqueles em que vivemos, é possível que fórmulas de programas como a "Zona Mista", onde pontificavam Bruno Prata e João Gobern, funcionem junto do público. Admitiu-o o próprio João Gobern, horas depois de ser dispensado; admito-o eu, que não sou tosco relativamente às virtudes e defeitos do meu povo.
Devo dizer que, jornalisticamente, não morro de amores por qualquer deles. E estranhava, até, que João Gobern fosse convidado de outros assados, ele que era essencialmente de bola e afins. Mas, se o Sr. Queirós também fala, na mesma antena, de política e sociedade (ou também fala de desporto), porque não João Gobern?!
Mas a notícia da demissão (demissão, não, carago, dispensa) de João Gobern prende-se com outra realidade: João Gobern era senhor de um mau gosto atroz. Nos trapos, esclareço! Era mesmo uma dor de alma! E é claro (evidente, pois claro!) que o mau gosto nos trapos se estendia a outras vertentes: já não lhe chegava ser muito mau a vestir, tínhamos ainda que saber, desta forma aviltante, que João Gobern é do Benfica e que os meus impostos lhe pagam para festejar os golos dos vermelhos em direto, em pleno programa.
Ora, se a porta da rua é a serventia da casa, andou bem a televisão pública em dispensar este senhor, dito jornalista? Se fosse apenas pelo gesto, acho que uma penitência e alguns açoites teriam bastado. Não se é infeliz por se querer, pode até ser um fardo difícil de suportar! Coitado do senhor! Sabe-se lá o que este marmanjo terá sofrido nos últimos anos, já não lhe teria chegado esse castigo?!
Outra coisa é falarmos de incompetência. E incompetência a dobrar, ou a multiplicar por mais! Primeiro, porque é inábil, ele que pretendia ser habilidoso na forma como, em jogo alegadamente combinado, contestava o Bruno, e vice-versa. Desde logo, porque ter um gesto destes em público é mau profissionalismo; depois, porque vestir daquela maneira em televisão, e logo na de serviço público, é um péssimo exemplo (mas há outros exemplos piores e, que se saiba, os seus mentores e autores, e atores, não foram demitidos (desculpem, dispensados); a seguir, porque para participar em programas em que se assume o clubismo na sua forma mais bíblica, há outros programas em televisão, não carecia de fazer figuras destas no "Zona Mista"; finalmente, ou talvez não, porque o senhor João ofendeu este país de opereta ao assumir, contra o sistema, as suas opções. Já devia saber que, para sobreviver, teria de fazer de conta, como tanta vez mostrou no programa. Foi um falhanço inadmissível, quase tão grande como ser benfiquista!
Bem, vou confessar: durante muitos anos, fiz jornalismo. E custa como o caraças (perdoe-se-me o termo, mas, já que estamos a falar de mau gosto, quero acrescentar o meu bocadinho para personalizar a coisa...) ser isento quando ali, à nossa frente, o nosso clube, do coração, da alma e de todos os momentos perde golos atrás de golos, falha oportunidades atrás de oportunidades, e a gente só a poder fumar (ainda se podia em recintos fechados), obrigados a mantermo-nos equidistantes na informação... não, não imaginam o que é, vocês que podem saltar, pular, gritar, insultar o árbitro... por isso, reverto para Camões e para o canto nono de "Os Lusíadas": "Milhor é experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não pode experimentá-lo."
Ora, certa noite, jogava-se um Porto - Deportivo da Corunha no Pavilhão das Antas (ainda não era Dr. Américo de Sá nem Pinto da Costa era ainda presidente), penso que uma meia-final da Taça dos campeões europeus de hóquei em patins. Entre outras coisas, escrevia eu para o jornal "O Porto", órgão oficial, sobre esta modalidade e, nessa noite, sentado junto à vedação do recinto de jogo, esperava que virássemos o resultado negativo da Galiza. Não me perguntem quem era o árbitro, já lá vai uma vida, mas sei que era italiano. O Porto não ia lá, nem com Cristiano. E Daniel Martinnazzo continuava a chatear a defensiva do Porto. Até que, a poucos segundos do fim, três ou quatro... pois! Não, não fiquei impávido exteriormente e com o coração aos saltos... Todo eu fui um salto, por dentro, por fora, para os lados, para dentro do rinque (alto aí, para dentro do rinque, não, que exagero...).
É por isso que João Gobern tem toda a minha simpatia de adepto, a minha antipatia de portista convicto e militante, a minha solidariedade de português que já soube o que é ser dispensado (ou demitido, tanto faz) por ter opinião e fazer opções, mas, que diabo, onde é que, Senhor João, estava com a cabeça? Eu estava no Pavilhão das Antas, escrevendo para o órgão oficial do clube, estava em jogo uma final da taça dos campeões europeus contra a Espanha, não estava num programa na televisão de serviço público, falando supra partes, como dever deontológico...
Ou será que alguém tramou João Gobern, ele que era a enésima vez que fazia aquilo?! Pensando estar em casa, entre os seus, enganou-se! Deixe-me dizer-lhe, senhor João, com amigos desses, quem precisa de inimigos?! Mas também não era necessário ter saltado para o relvado, que foi o que fez ainda que metaforicamente, mas com toda a energia e falta de bom senso.
Eu, por mim, pode crer, até o desculpo. E compreendo que não tenha aguentado mais 92 minutos da sua vida sob o espetro de mais dois pontos perdidos. Eu já soube, felizmente há muito tempo, o que isso era!
PS. Hoje, não sei o que me deu! Talvez por estarmos a falar de mau gosto, escrevi este blogue segundo a ortografia do novo AO. Que estupidez!
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