sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sem mais comentários!


José Mourinho para o Presidente
JORGE NUNO DE LIMA PINTO DA COSTA 

Quando recebi o convite para escrever umas palavras e com elas participar nesta merecida homenagem ao Senhor Pinto da Costa, senti-me lisonjeado e, passada a surpresa e após refletir, senti-me também orgulhoso por ter tido participação direta em dois desses 30 anos de presidência que agora se celebram.
É, todavia, difícil para mim escrever algo sobre o Senhor Pinto da Costa, escrever algo que já não tenha sido dito ou escrito por algum dos que tiveram o privilégio de com ele trabalhar diretamente. Este Senhor, pelos seus inúmeros e incríveis talentos, poderia ter sido com sucesso aquilo que quisesse. Decidiu ser presidente de um clube de futebol, o clube do seu coração e, nesse papel, foi escrevendo uma história da qual não se conhece ainda o fim, mas que é uma história fantástica, a história do Grande Presidente da História do Futebol Português.

Enquanto treinador do FC Porto, um dos momentos marcantes que ali vivi foi a inauguração do novo estádio, um estádio que, como sempre pensei, deveria levar o seu nome, mas que acabou por se chamar Estádio do Dragão. Na altura discordei, discordei silenciosamente, como assim era exigido pelas minhas funções e também porque - como nunca escondi - não nasci portista e nunca carreguei comigo esta proteção.

Anos mais tarde e na sequência das reflexões que faço sobre a minha carreira e tudo aquilo que a rodeia, cheguei à conclusão de que, afinal, o nome do estádio era perfeito. Estádio do Dragão! E porquê? Porque Pinto da Costa é o Dragão! Pinto da Costa é a mística. Pinto da Costa é a alma. Pinto da Costa é o estratega. Pinto da Costa é o Futebol Clube do Porto. E que me desculpem aqueles que discordarem, mas quando Pinto da Costa disser que se acabou, o FC Porto não mais será o mesmo.

Na semana que se seguiu à final da Taça UEFA, estava eu de saída, estava Deco de saída. Chamou-me e sentou-se comigo. Perguntou-me se não sentia que poderia ganhar a Champions... Como sempre, acertou na "mouche". Tocou-me no orgulho. "Míster, prometo que só vendemos um jogador e que não será o Deco. Prometo que lhe daremos outro em sua substituição e que será o míster a escolher." "OK, Presidente! Vendemos o Postiga e vamos buscar o McCarthy."

O Homem sabia que eu não poderia virar as costas a um desafio e tocou-me na ferida. Fiquei mais um ano. O Homem tinha razão, podíamos ganhar a Champions. Agradeço-lhe por esse poder de persuasão, pela inteligência com que o usou, algo apenas possível nos eleitos. É que tal como há um grupo de eleitos entre os jogadores, entre treinadores, também há um grupo de eleitos entre dirigentes. E aqui, Pinto da Costa ocupa seguramente, a nível mundial, uma posição no topo.

Há muito tempo que não tinha a oportunidade de enviar um abraço de amizade, sentido, a todos os portistas e de lhes dizer que os anos passam, mas que jamais me esquecerei daquilo que vivemos e conquistámos juntos. Está dado e está dito. Quanto ao Presidente - aquele abraço de Parabéns!

JOSÉ MOURINHO

PS. Publicado sem edição

Assim se escreve em bom português!!!!


15:38 - Futebol - Espanha
Barcelona oferece cheque em branco a Guardiola

Segundo a televisão autonómica da Catalunha, a TV3, o Barcelona ofereceu um cheque em branco a Pep Guardiola para que o treinador define-se o valor que acha justo para continuar como treinador dos atuais campeões de Espanha e da Europa.
Guardiola e o presidente blaugrana, Sandro Rosell, estiveram ontem reunidos em casa do técnico durante três horas, sendo opinião geral da comunicação social de que estará perto o fim da ligação do treinador com o clube. Segundo adianta o jornal madrileno, Marca, Guardiola comunicará amanhã a decisão aos jogadores
, ndia do regresso do plantel aos treinos depois da eliminação na Champions.

(OJogo online, 27 de Abril)

Assim se escreve em bom português!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Escusam de perguntar onde eu estava no 25 de abril...


O dia 25 de Abril é para mim uma data especial. Começou a 24 de Abril de 1974, ao princípio da tarde de um dia que parecia igual a tantos outros no quartel, começando por uma ordem unida no dealbar da manhã e continuando com umas aulas tácticas fora do quartel.

Saídos do almoço na messe, o passa palavra foi iniciado, instrução ministrada pelos cabos milicianos, reunião de oficiais e aspirantes em sítio a combinar...

Tudo muito discreto, ninguém desconfiou, nem o Capitão Calado, os olhos do regime.

Então, era assim: estava em movimento um golpe, bem mais preparado do que a intentona das Caldas, um mês e uns dias antes, estivéssemos atentos até às 23 horas e, se os Emissores Associados de Lisboa colocassem no ar o Paulo de Carvalho com "E depois do adeus", era para ficarmos em alerta máximo, tudo preparado para receber ordens rápidas de acção.

Podem imaginar o estado destes jovens militares, sobretudo a maioria dos de Abrantes que se sabiam mobilizados, mudando a antena para a Rádio Renascença e  aguardando ansiosamente a segunda senha.

A transmissão de "Grândola, vila morena", do Zeca, desencadeou, então, a mais promissora das noites, prenúncio da mais promissora vigília activa.

Não importa, agora, com 38 anos em cima, extrapolar sobre os acontecimentos, eles são do conhecimento público, viraram completamente o sentido de uma Nação e de um Povo, embora algumas tentações futuras acabassem por ensombrar o orgulho dos que participaram nesta aventura sem par.

Por isso, o 25 de Abril me diz tanto, mau grado as circunstâncias actuais. Avesso a protagonismo, gosto de ficar entre as gentes, fecho os olhos aos acordes, só eles me interessam juntamente com esse burburinho de povo nos meus ouvidos. O resto é aproveitamento, dos discursos aos cravos nas lapelas de tantos a quem o 25 de Abril apenas lhes diz algo porque lhes trouxe benfeitorias, riqueza, protagonismo, poder, visibilidade, mordomias...

Para além disso, nesse dia, e penso que ainda não falhei mesmo em 2007 quando vivi em Luanda, compro sempre um livro onde coloco o ano, apenas o ano porque a data eu sei bem!

Ontem, no Porto, seguindo um périplo pela baixa que sempre me conforta a alma, fui desaguar na estação de São Bento e na Estação dos livros. Sim, sou muito de alfarrabistas, penso que sempre sonhei escrever e ter uma loja de alfarrábios, receber os clientes em amenas tertúlias, acumular e fazer circular os clássicos e os menos modernos, aqueles que vamos esquecendo. Assim, não os esquecíamos. Os que estão na berra serão esquecidos mais tarde. Ponto!

Apanhei um comboio até Campanhã e, no final de duas horas de folheio, tinha comprado por 16 euros três livros.

O primeiro, Kimalanga, de FBaião, aliás o angolano Fernando Teixeira, uma divertida viagem rápida ao mundo do enriquecimento dos antigos militantes, guerrilheiros ou comissários políticos, às suas amantes e desvios ideológicos, aos carros e negócios, comissões...

O segundo, escrito por Pierre Bayard, "Como falar dos livros que não lemos", que mereceu da London Review of Books este saboroso comentário: "Brilhante... uma peça de sociologia literária útil e espirituosa, concebida para trazer paz de espírito duradoura às almas escrupulosas que ficam ansiosas quando, à sua volta, o assunto "falar-sobre-livros" se torna demasiado específico".

O terceiro, escrito pela romancista Thaisa Frank e pela poetisa Dorothy Wall, chama-se "Vocação de Escritor" (descubra, desenvolva e eduque a sua vocação literária).

Por isso, se, dentro de alguns meses, lhes cair nas mãos um livro com o meu nome e reminiscências da África que consegui conhecer do Atlântico ao Índico, se for um livro ligeiro e mordaz, responder aos cânones da estilística e for tão abiográfico que seja o mais biográfico dos livros, então agradeça ao 25 de Abril ou, simplesmente, invective-o! Se não lhe cair nas mãos esse livro, então, agradeça a Deus por me ter dado esta preguiça boa que me ensina todos os dias: "Trabalhos tenha quem trabalhos me quer dar!"

Eu, por mim, que já acabei de ler o Kimalanga (são 117 páginas, já com o glossário e o índice), estou meio estendido junto à janela, deixando entrar esta amostra de sol quentinho enquanto escrevo este blogue e ganho apetite para o lanche, que peixe não puxa carroça e, daqui a pouco, estou com fome!

terça-feira, 24 de abril de 2012

à margem de um gesto e de um fórum


Mário Soares não vai estar presente nas comemorações do 25 de Abril deste ano. Ao arrepio de todas as criticas que já li e de outros comentários a verberar quem criticou a posição do político, devo dizer que Mário Soares tem legitimidade, como cidadão, de participar naquilo que lhe aprouver e onde lhe convier. Como ex-Presidente e ex-Primeiro-Ministro, que continua a viver, de forma sibarita, à custa do erário público, que, para além de lhe pagar as mordomias, ainda lhe salda as multas por desvarios de velocidade e outros pecados mais ou menos confessáveis, Mário Soares já não pode, por capricho, eximir-se a certas presenças. Noblesse oblige.

Mário Soares pode não gostar deste Governo. Muita gente boa não gosta! Mas, que me conste, as comemorações nada têm a ver com o Governo, decorrem na casa de democracia onde se sentam todas as correntes políticas portuguesas. Por respeito a socialistas, comunistas e outros esquerdistas, Mário Soares, não fosse por mais nada, deveria respeitar quem ainda acredita nele como um dos grandes barões da democracia.

A mim, Mário Soares pouco me diz ideologicamente. Talvez porque ele enterrou – ou guardou na gaveta - todas as ideologias que nos vendeu durante a longa noite. Mas respeito a disponibilidade democrática que emprestou (parece que, de facto, nunca deu, no sentido bíblico, nada a ninguém) ao país. Mas o país pagou-lhe de volta com juros, deu-lhe estatuto, motorista, carros, poder imenso e, até, uma Fundação! E até lhe permite diatribes como esta de se dar ao luxo de faltar à comemoração do dia que lhe trouxe o paraíso. A Mário Soares até lhe é permitido, com louvores vários, morder na mão que o sustenta e ampara os seus vícios de homem rico. Logo, o Dr. Mário Soares deve ao País o respeito que, pelos vistos, não é o seu forte.

Recuso-me a comentar aqui outros estádios do seu percurso político, menos abonatórios. Não gosto é de ler comentários como os do fórum do Expresso sobre Ricardo Costa quando disse que esta ausência era "Um dos erros políticos mais graves de Mário Soares". Alguém, entre muitos outros, que pratica ou metaforicamente insultaram o jornalista, escreveu, então, que “O Dr. Mario Soares tem toda a legitimidade e direito de comparecer onde muito bem quer e onde se sente bem, é a ele que voçe deve o fato de estar em liberdade de imprensa e de opinião, é a ele que voçe deve toda a sua pompa trabalhista, é a ele que voçe deve o fato de fazer comentários inuteis e inoportunos” (transcrito sem edição…). Que me conste, quando Portugal acordou na alvorada de Abril, ainda o Dr. Mário Soares estava fora do país, limitando-se a regressar para herdar uma democracia de que haveria de servir-se ao longo destes 38 anos. E, mesmo quando marchou contra os comunistas, ainda estou para saber se, não tivesse sido o Almirante Pinheiro de Azevedo, a grande marcha teria vingado. Como mais tarde, se não tivesse sido Ramalho Eanes, será que ainda tínhamos democracia, mesmo com Mário Soares?!

É conhecida alguma tentação para se reescrever a história no sentido de salvaguardar a imagem de alguns senadores e branquear alguns dos seus actos políticos mais controversos, transferindo a responsabilidade para outros. Mas, se hoje estamos na mão da Europa e do seu dinheiro é porque vultos como Mário Soares nos encaminharam para este pesadelo da soi disante Europa unida, ou União Europeia. E foram alguns dos seus herdeiros – a quem deu cobertura – que transformaram este país naquilo que ele hoje é, corrupto e decrépito, sem honra na sua história e com um presente envenenado por uma casta de gente que apenas se preparou para subir nas costas e na boa-vontade do povo, aproveitando-se da sua ingenuidade e falta de memória (Ah! Foi Mário Soares que o afirmou: o povo não tem memória…).

Sim, estou revoltado! Trabalhei quase quarenta anos, participei na revolução (era oficial miliciano aquando do golpe), obrigaram-me, em Moçambique, a participar numa descolonização com a qual não concordava (não fugi como tantos outros “revolucionários”, desses que faltam aos seus deveres institucionais, para o exílio, fiquei por cá, aguentei a ditadura e os seus efeitos, lutei aqui pela liberdade apesar dos perigos, não desrespeitei a minha bandeira), estudei a trabalhar para poder subir na vida e poder ter uma aposentação digna, e o que me fizeram?!

Sim, estou revoltado!

Sei que não devia! Faz-me mal à hipertensão, à diabetes, às maleitas a cujo tratamento é cada vez mais caro chegar. Por culpa de quem? Talvez minha por ter tentado ser um cidadão!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dispersando sem violência...


Se é verdade que devemos aprender com os antepassados, porque não reactivar o costume nas manifestações convocadas pela Intersindical?!

Obrigado, Catarino, pelo envio.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Farsantes


Um sacripanta (porque bissectriz de dois catetos a que em alemão poderíamos chamar Schuft -patife e Scheinheilige - beato) de um ex-governante socialista nesta área da Segurança Social, um generoso deputado comunista, uma apócrifa (ninguém se chama Mariana Aiveca) deputada do Bloco de Esquerda e alguns outros sindicalistas (a Senhora Aiveca pertence também aos quadros directivos da Intersindical) produziram declarações sobre a recente deliberação do Conselho de Ministros, consubstanciada em normativo legal, de suspender as "reformas antecipadas" aos trabalhadores abrangidos pela (beneficiários da) Segurança Social. Desta feita, os funcionários do Estado escaparam, porque ao Estado interessa que se vão reformando, em nome do sacrossanto mandamento que ordena o emagrecimento da Administração Pública.
Que me recorde, quando o executivo de Sócrates impôs tal medida, praticamente por um prazo idêntico de ano e meio, mais mês menos mês, não vislumbrei tal sanha iconoclasta. Não recordo e, não obstante, fui vítima dessa medida sem poder fugir-lhe, ainda que já me parecessem justos e legítimos os argumentos agora utilizados, sem que ninguém, no entanto e à altura, tivesse pugnado nas instâncias próprias por esses argumentos, fossem deputados, sindicalistas e afins, governantes e governadores, ou Presidente da República, que, tal como agora, se limitou a promulgar o diploma, não tão à pressa e à socapa como há dias, como se tivesse consciência de que estava a assaltar-nos e convindo que já não dava para mandar sofrer mais. Assaltava-se, e pronto! Sem dor! Sim, porque se trata de um assalto!
O que parece, entretanto, diferente nas críticas a esta última medida é que a grande preocupação dos políticos me pareceu ser a da publicidade, mais do que sonegação de um direito.
Tocaram ao de leve nessa sonegação, por dever de ofício (noblesse do cargo e de estatuto oblige), mas onde vertem toda a sua imensa, caudalosa e inqualificável raiva é sobre o silêncio (leia-se secretismo, segundo a nomenclatura PS) do Governo, no comunicado e na conferência de imprensa que se seguiram à reunião do Conselho de Ministros onde se decidiu esta medida atentatória dos direitos de quem passou uma vida activa de trabalho a descontar os seus impostos e a fazer as deduções para os esquemas de alegada segurança social, e se vê, inopinadamente, preso à política assassina de um certo capitalismo selvagem, agora e sempre desrespeitador, porque sempre protegido pelos poderes, e onde quem paga a crise é também quem paga, em trabalho, os Mercedes, os Hummers, os BMW e os Porsche dessa gente auto-intitulada de empresários... Os mesmos de sempre donos do capital passam incólumes pelos seus investimentos de risco, os seus peculatos de especulação em especulação. Ou não houvesse um povo inteiro a quem sugar mais uns cobres!
É por isso que esta casta ma enoja. Carregados de vaidades, cheios de privilégios, arrivistas que nunca fizeram mais nada do que puir calças nas cadeiras das sedes partidárias, estudar palavras caras e cultivar ideias redondas para comícios, insultar a boa-fé do povo, ascendem na política e nos interesses pessoais ao sabor da sua arrogância, da sua ambição desmedida. Fruto dessa práxis, cometem erros jacobinos, peregrinos, usam aventais em reuniões secretas e influências às claras, e, quando dá para o torto, escondem-se atrás da sua impunidade e vão para Paris cultivar o esquecimento e preparar o regresso.
Nesse capítulo, o da luta pelo poder e, depois, pela sua manutenção, são todos iguais: nenhum mais sério que o outro, apenas o tom muda. Já não podemos fazer contas, as novas gerações entram - quando entram - no mercado de trabalho sem saberem o que lhes reserva a vida, os descontos que fazem e os impostos que pagam. O mais certo é irem cair no poço sem fundo da incompetência dos políticos, eles que, em matéria de gula fiscal, são - até nisso - idênticos. Entre uns e outros, venha o diabo e escolha!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Quem tramou João Gobern?




Num país e numa sociedade como aqueles em que vivemos, é possível que fórmulas de programas como a "Zona Mista", onde pontificavam Bruno Prata e João Gobern, funcionem junto do público. Admitiu-o o próprio João Gobern, horas depois de ser dispensado; admito-o eu, que não sou tosco relativamente às virtudes e defeitos do meu povo.

Devo dizer que, jornalisticamente, não morro de amores por qualquer deles. E estranhava, até, que João Gobern fosse convidado de outros assados, ele que era essencialmente de bola e afins. Mas, se o Sr. Queirós também fala, na mesma antena, de política e sociedade (ou também fala de desporto), porque não João Gobern?!

Mas a notícia da demissão (demissão, não, carago, dispensa) de João Gobern prende-se com outra realidade: João Gobern era senhor de um mau gosto atroz. Nos trapos, esclareço! Era mesmo uma dor de alma! E é claro (evidente, pois claro!) que o mau gosto nos trapos se estendia a outras vertentes: já não lhe chegava ser muito mau a vestir, tínhamos ainda que saber, desta forma aviltante, que João Gobern é do Benfica e que os meus impostos lhe pagam para festejar os golos dos vermelhos em direto, em pleno programa.

Ora, se a porta da rua é a serventia da casa, andou bem a televisão pública em dispensar este senhor, dito jornalista? Se fosse apenas pelo gesto, acho que uma penitência e alguns açoites teriam bastado. Não se é infeliz por se querer, pode até ser um fardo difícil de suportar! Coitado do senhor! Sabe-se lá o que este marmanjo terá sofrido nos últimos anos, já não lhe teria chegado esse castigo?!

Outra coisa é falarmos de incompetência. E incompetência a dobrar, ou a multiplicar por mais! Primeiro, porque é inábil, ele que pretendia ser habilidoso na forma como, em jogo alegadamente combinado, contestava o Bruno, e vice-versa. Desde logo, porque ter um gesto destes em público é mau profissionalismo; depois, porque vestir daquela maneira em televisão, e logo na de serviço público, é um péssimo exemplo (mas há outros exemplos piores e, que se saiba, os seus mentores e autores, e atores, não foram demitidos (desculpem, dispensados); a seguir, porque para participar em programas em que se assume o clubismo na sua forma mais bíblica, há outros programas em televisão, não carecia de fazer figuras destas no "Zona Mista"; finalmente, ou talvez não, porque o senhor João ofendeu este país de opereta ao assumir, contra o sistema, as suas opções. Já devia saber que, para sobreviver, teria de fazer de conta, como tanta vez mostrou no programa. Foi um falhanço inadmissível, quase tão grande como ser benfiquista!

Bem, vou confessar: durante muitos anos, fiz jornalismo. E custa como o caraças (perdoe-se-me o termo, mas, já que estamos a falar de mau gosto, quero acrescentar o meu bocadinho para personalizar a coisa...) ser isento quando ali, à nossa frente, o nosso clube, do coração, da alma e de todos os momentos perde golos atrás de golos, falha oportunidades atrás de oportunidades, e a gente só a poder fumar (ainda se podia em recintos fechados), obrigados a mantermo-nos equidistantes na informação... não, não imaginam o que é, vocês que podem saltar, pular, gritar, insultar o árbitro... por isso, reverto para Camões e para o canto nono de "Os Lusíadas": "Milhor é experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não pode experimentá-lo."

Ora, certa noite, jogava-se um Porto - Deportivo da Corunha no Pavilhão das Antas (ainda não era Dr. Américo de Sá nem Pinto da Costa era ainda presidente), penso que uma meia-final da Taça dos campeões europeus de hóquei em patins. Entre outras coisas, escrevia eu para o jornal "O Porto", órgão oficial, sobre esta modalidade e, nessa noite, sentado junto à vedação do recinto de jogo, esperava que virássemos o resultado negativo da Galiza. Não me perguntem quem era o árbitro, já lá vai uma vida, mas sei que era italiano. O Porto não ia lá, nem com Cristiano. E Daniel Martinnazzo continuava a chatear a defensiva do Porto. Até que, a poucos segundos do fim, três ou quatro... pois! Não, não fiquei impávido exteriormente e com o coração aos saltos... Todo eu fui um salto, por dentro, por fora, para os lados, para dentro do rinque (alto aí, para dentro do rinque, não, que exagero...).

É por isso que João Gobern tem toda a minha simpatia de adepto, a minha antipatia de portista convicto e militante, a minha solidariedade de português que já soube o que é ser dispensado (ou demitido, tanto faz) por ter opinião e fazer opções, mas, que diabo, onde é que, Senhor João, estava com a cabeça? Eu estava no Pavilhão das Antas, escrevendo para o órgão oficial do clube, estava em jogo uma final da taça dos campeões europeus contra a Espanha, não estava num programa na televisão de serviço público, falando supra partes, como dever deontológico...

Ou será que alguém tramou João Gobern, ele que era a enésima vez que fazia aquilo?! Pensando estar em casa, entre os seus, enganou-se! Deixe-me dizer-lhe, senhor João, com amigos desses, quem precisa de inimigos?! Mas também não era necessário ter saltado para o relvado, que foi o que fez ainda que metaforicamente, mas com toda a energia e falta de bom senso.

Eu, por mim, pode crer, até o desculpo. E compreendo que não tenha aguentado mais 92 minutos da sua vida sob o espetro de mais dois pontos perdidos. Eu já soube, felizmente há muito tempo, o que isso era!


PS. Hoje, não sei o que me deu! Talvez por estarmos a falar de mau gosto, escrevi este blogue segundo a ortografia do novo AO. Que estupidez!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Humor de terça-feira


Para além de irrecusável bom gosto literário, Miguel Sousa Tavares ainda cultiva esse bom gosto em outras áreas: é portista, dos não alinhados mas de gema, e “opta por escrever as suas crónicas na ortografia antiga”. Deus o salve, mau grado algumas injustiças que, em outros tempos, proferiu contra a classe dos professores, numa daquelas guerras que nunca entendi da sua parte. Ou não fossem todas as guerras incompreensíveis, porque, liminarmente, sectárias.

Vem esta do bom gosto á colação de, não sendo unanimista relativamente à figura e outras figuras de MST, comungo com ele em outras situações, desde logo a de ser portista e a de escrever em Português (havendo quem lhe chame, falaciosamente, Português europeu, PT-PT, ou outro qualquer epíteto, eu teimo em chamar à ortografia em que escrevo, simplesmente, Português).

Sou fã incondicional das suas crónicas, mesmo quando torço o nariz durante a sua leitura, e a NORTADA faz parte dos meus devaneios de terça-feira. Tanjo a sua prosa e o humor verrinoso com que chicoteia alguns da praça do futebol, sobretudo se a coerência não é o seu prato mais forte ou, apenas, não faz parte da sua ementa jornalística.

Apelidar de “comovente” o rol de asneiras de Fernando Guerra, o cronista da “página ao lado”, é brilhante e nunca me teria passado pela cabeça denominar comovente uma patetice jurássica daquele tamanho (não se trata de chamar arcaico ao Fernando Guerra, antigo sou eu… honi soit qui mal y pense). Talvez por não me passar pela cabeça uma palavra tão “comovente” para tal prosa é que MST é quem é, filho de quem é, vende o que vende de literatura, de ficção e de ideias, e eu, pobre de mim, filho do Quim Carrelo e da Alzira, dita dos Rabanhos de Sousa, apenas possuo esta amostra de blogue com sete seguidores, que nem mesmo sei se são de verdade, se existem, se têm prazer em segui-lo ou o fazem por caridade evangélica, se são manifestos ou manifestações virtuais, hologramas de outros “eus”, também eles “filhos de algo” como eu, mas sem a nobreza e a paternidade literária e bíblica de MST, que lhe permitem dizer e escrever o que bem lhe apraz, sempre com seguidores e muitos “esclarecidos” invejosos.

E quem, como eu, leu a seguir a crónica de Fernando Guerra, em que, pela enésima (para sermos parcimoniosos) vez, faz apelo aos “bloqueios jurídicos e sublimes conclusões” do Apito Dourado (para quê e porquê, não entendo, já ninguém leva a sério essa conversa anquilosada, nem o inefável responsável pela comunicação do Benfica), entende perfeitamente que MST ainda disse poucas, dizendo tanto num só adjectivo, do seu parceiro de crónicas.

Quase tão bom como MST, só mesmo Luís Afonso, responsável pelo “Barba e Cabelo” da mesma edição de “A Bola”, quando põe na boca do barbeiro, esta brilhantíssima conclusão sobre o monumento às conquistas do Benfica em 1961 e 1962 (é só fazer as contas…): “Temos um monumento às descobertas, um aos restauradores da independência, porque não havemos de ter um ao Benfica campeão europeu?”.

Em semana da Paixão, para não agudizar – ainda – mais a crise, estes singulares e deliciosos pedaços de humor enchem a alma de um cristão… dragão!