domingo, 15 de julho de 2012

Domingo de manhã, no vendaval de pensar


Sou um leitor contumaz. Perco-me nas palavras por prazer intenso, ainda que pouco metódico, para me encontrar no tempo, depois da síntese das emoções desaguadas, dos sentimentos vertidos ou dos factos espargidos no papel. Realidade ou ficção.
Não nutro preferências, embora elas me apanhem desprevenido tantas vezes, e dou por mim a bater à porta das literaturas emergentes com a lucidez de quem procura o impossível e sempre o encontra.
Neste momento da vida, em que diluo dias e noites em letra de imprensa, feita de sentimentos abertos ou mero desassossego, deambulo pela literatura estrangeira, talvez à procura de uma catarse, tentando entender todos aqueles que, por dever, prazer ou subsistência, afogueiam a existência a traduzir a língua dos outros. Ou à procura de um caminho, intrinsecamente iluminado num simulacro de revelação, mística e profana, por aquela espécie de guião que li algures: "Quem não vai a lado nenhum já está perdido!". Ou estoutro: "O que o homem não inventa para pensar menos".
De facto, enquanto leio, não penso. E essa ausência metafísica alimenta esta abulia, esta atávica indolência, dá força e músculo a esta preguiça de, não pensando, não ter de escrever. Mas eu quase só sei escrever! Não sei se bem se mal. Há quem embandeire o meu talento, eu sei, mas nada me diz que não seja por não entender que o meu género é este, o de estar na vida sem rumo, ainda que apaixonado, como um asceta que se esconde no vazio porque está demasiado cheio de ideais e de loucura. Ou, simplesmente, sofre de agorafobia.
Cheguei àquela fase de anamnese em que rejubilo com a recuperação do passado, mas temo que a anomia (como desorganização interior) acabe por se transformar em anfibologia, tomada aqui como um aglomerado de proposições que não passam de equívocos, e fico estranhamente ansioso por me ter perdido dos meus arquétipos, Platão ou Jung.
Como gostaria, no entanto, de poder dizer: finalmente, a ataraxia! Mas será que a absoluta tranquilidade existe? Serei um estóico à procura da finalidade última? Ou um autista caótico que se perdeu porque não consegue sair de si próprio, porque não consegue tomar em consideração o mundo exterior (ou, tão só, conviver inteiramente com ele)?
Sim, sou absolutamente incapaz de axiologia, apesar de todos os cânones que me imponho para iludir, concupiscentemente, o cinismo. Cheio de conotações, apenas.

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