segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A grosseira inconstitucionalidade da tributação sobre pensões - António Bagão Félix




Aprovado o OE 2013, Portugal arrisca-se a entrar no "Guinness Fiscal"por força de um muito provavelmente caso único no planeta: a partir de um certo valor (1350 euros mensais), os pensionistas vão passar apagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da CRP], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP].

Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 € de impostos do que se estivesse a trabalhar com igual salário (já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionistaviu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!).

Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada "contribuição extraordinária de solidariedade" (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Públicas e privadas. Obrigatórias ou resultantes de poupanças voluntárias. De base contributiva ou não, tratando-se por igual as que resultam de muitos e longos descontos e as que, sem esse esforço contributivo, advêm de bónus ou remunerações indirectas e diferidas.

Nas pensões, o Governo resolveu que tudo o que mexe leva! Indiscriminadamente. Mesmo - como é o caso - que não esteja previstono memorando da troika.

Esta obsessão pelos reformados assume, nalguns casos, situações grotescas, para não lhes chamar outra coisa. Por exemplo, há poucos anos, a Segurança Social disponibilizou a oferta dos chamados "certificados de reforma" que dão origem a pensões complementares públicas para quem livremente tenha optado por descontar mais 2% ou 4% do seu salário. Com a CES, o Governo decide fazer incidir mais impostos sobre esta poupança do que sobre outra qualquer opção de aforro que as pessoas pudessem fazer com o mesmo valor... Ou seja, o Estado incentiva a procura de um regime público de capitalização (sublinho, público) e logo a seguir dá-lhe o golpe mortal. Noutros casos, trata-se - não há outra maneira de o dizer - de um desvio de fundos através de uma lei: refiro-me às prestações que resultam de planos de pensões contributivos em que já estão actuarialmente assegurados os activos que caucionam as responsabilidades com o sbeneficiários. Neste caso, o que se está a tributar é um valor que já pertence ao beneficiário, embora este o esteja a receber diferidament eao longo da sua vida restante. Ora, o que vai acontecer é o desplante legal de parte desses valores serem transferidos (desviados), através da dita CES, para a Caixa Geral de Aposentações ou para o Instituto de Gestão Financeira da S. Social! O curioso é que, nos planos de pensões com a opção pelo pagamento da totalidade do montante capitalizado em vez de uma renda ou pensão ao longo do tempo, quem resolveu confiar recebendo prudente e mensalmente o valor a que tem direito verá a sua escolha ser penalizada.

Um castigo acrescido para quem poupa.

Haverá casos em que a soma de todos os tributos numa cascata sem decoro (IRS com novos escalões, sobretaxa de 3,5%, taxa adicional de solidariedade de 2,5% em IRS, contribuição extraordinária de solidariedade (CES), suspensão de 9/10 de um dos subsídios que começa gradualmente por ser aplicado a partir de 600 euros de pensão mensal!) poderá representar uma taxa marginal de impostos de cerca de 80%! Um cataclismo tributário que só atinge reformados e não rendimentos detrabalho, de capital ou de outra qualquer natureza! Sendo confiscatório, é também claramente inconstitucional.

Aliás, a própria CES não é uma contribuição. É pura e simplesmente um imposto. Chamar-lhe contribuição é um ardil mentiroso. Uma contribuição ou taxa pressupõe uma contrapartida, tem uma natureza sinalagmática ou comutativa. Por isso, está ferida de uma outra inconstitucionalidade. É que o já citado art.º 104.º da CRP diz que oimposto sobre o rendimento pessoal é único.

Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os media, não têm lobbies organizados.

Pela mesma lógica, quando se fala em redução da despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado social (como se tudo o resto fosse auto-sustentável...). Porque, afinal, os seus beneficiários são os velhos, os desempregados,os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes... os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações. E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso com quem não se pode defender.

Foi lamentável que os deputados da maioria (na qual votei) tenham deixado passar normas fiscais deste jaez mais próprias de um socialismo fiscal absoluto e produto de obsessão fundamentalista, insensibilidade, descontextualização social e estrita visão de curto prazo do ministro das Finanças. E pena é que também o ministro da Segurança Social não tenha dito uma palavra sobre tudo isto, permitindo a consagração de uma medida que prejudica seriamente uma visão estratégica para o futuro da Segurança Social. Quem vai a partirde agora acreditar na bondade de regimes complementares ou da introdução do "plafonamento", depois de ter sido ferida de morte a confiança como sua base indissociável? Confiança que agora é violada grosseiramente por ditames fiscais aos ziguezagues sem consistência, alterando pelo abuso do poder as regras de jogo e defraudand irreversivelmente expectativas legitimamente construídas com esforço e renúncia ao consumo.

Depois da abortada tentativa de destruir o contributivismo com o aumento da TSU em 7%, eis nova tentativa de o fazer por via desta nova avalanche fiscal. E logo agora, num tempo em que o Governo diz querer"refundar" o Estado Social, certamente pensando (?) numa cultura previdencial de partilha de riscos que complemente a protecção pública. Não há rumo, tudo é medido pela única bitola de mais e mais impostos de um Estado insaciável.

Há ainda outro efeito colateral que não pode ser ignorado, antes deve ser prevenido: é que foram oferecidos poderosos argumentos para"legitimar" a evasão contributiva no financiamento das pensões.

"Afinal, contribuir para quê?", dirão os mais afoitos e atentos.

Este é mais um resultado de uma política de receitas "custe o que custar" e não de uma política fiscal com pés e cabeça. Um abuso de poder sobre pessoas quase tratadas como párias e que, na sua larga maioria, já não têm qualquer possibilidade de reverter a situação. Uma vergonha imprópria de um Estado de Direito. Um grosseiro conjunto de inconstitucionalidades que pode e deve ser endereçado ao Tribunal Constitucional.

PS1: Com a antecipação em "cima da hora" da passagem da idade deaposentação dos 64 para os 65 anos na função pública já em 2013 (até agora prevista para 2014), o Governo evidencia uma enorme falta derespeito pela vida das pessoas. Basta imaginar alguém que completa 64 anos em Janeiro do próximo ano e que preparou a sua vida pessoal e familiar para se aposentar nessa altura. No dia 31 de Dezembro, o Estado, através do OE, vai dizer-lhe que, afinal, não pode aposentar-se. Ou melhor, em alguns casos até poderá fazê-lo, só que com penalização, que é, de facto, o que cinicamente se pretende com a alteração da lei. Uma esperteza que fica mal a um Governo que se quer dar ao respeito.

PS2: Noutro ponto, não posso deixar de relevar uma anedota fiscal para2013: uma larga maioria das famílias da classe média tornadas fiscalmente ricas pelos novos escalões do IRS não poderá deduzir umcêntimo que seja de despesas com saúde (que não escolhem,evidentemente). Mas, por estimada consideração fiscal, poderão deduziruns míseros euros pelo IVA relativo à saúde... dos seus automóveis pago às oficinas e à saúde... capilar nos cabeleireiros. É comovente...

PUB 28-11-12 Por António Bagão Félix

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Porto Canal e mística portista





O “Porto Canal”, a estação de televisão que mais se aproxima do meu conceito de projecto para a informação privilegiada de um clube, mostra como o FC Porto contornou certas tentações, de que o canal Benfica TV é o exemplo acabado com o apanágio da chicana e do insulto. E isso faz toda a diferença!
Se me disserem que a Benfica TV, entretanto, inverteu este rumo desde que deixei de vê-la, então considero o que escrevi como mero registo histórico, removendo-o do presente.

É óbvio que o aberrante, por vezes, pode divertir-nos. A mais execrável conduta pode lançar-nos um sorriso no olhar. Temos esta particularidade de rir – ou sorrir – de tudo aquilo que, ainda que sórdido ou dramático, só pode ser visto à luz da caricatura. Eu próprio gozei imenso com aquela invenção pré-histórica de “transmitir” os jogos do Benfica com círculos num tabuleiro, que se mexiam, alegadamente mostrando o desenrolar do jogo que corria ao lado, na SportTV ou num canal generalista. Burlesco, no mínimo, como burlescos se tornavam alguns lugares comuns do insulto ao FC Porto, durante essas transmissões, mesmo quando o adversário não era o Dragão.

Será, aliás, difícil, para mim e para muitos que se pautam por outros valores que não os da Benfica TV, esquecer aquele comentário infeliz de que Pinto da Costa, para bem de todos, já deveria estar a festejar o título que o FC Porto acabara de conquistar (suponho que com Vilas Boas) junto do seu amigo Pôncio Monteiro, que tinha falecido meses antes.

Se um dia a televisão do meu clube enveredar por aí, confesso que não sei o que serei capaz de escrever perante tamanha desilusão.

Mas não era sobre isto que queria escrever. Vim aqui para escrever sobre mística, e como ela se constrói.

Júlio Magalhães introduziu na grelha da estação uma espécie de talk-show, chamado “Dupla improvável”, onde, com Paulo Futre, vai brincando ao entretenimento de uma forma interessante e descomprometida.
No último, foram convidados Laureta (o Lau) e Quim (Vitorino) e falou-se, como era de esperar, da final de Viena, que Laureta falhou por se ter lesionado gravemente num treino. Mas falou-se de muito mais. Sobretudo de mística.
Ficámos a saber, por exemplo, que André e Quim eram os testas-de-ferro a quem incumbia defender o “menino” Futre das investidas às suas pernas por parte dos defesas adversários. E podemos imaginar essas cenas, sobretudo aqueles que não assistiram a tantos desses episódios porque ainda não havia televisão omnipresente nos campos de futebol. Eu assisti a muitíssimas delas, in loco, felizmente. André era, de facto, o jogador que, dentro do campo, ninguém queria ter como inimigo. Nem o José Pratas…

Mas ficámos também a saber dos sempre falados, mas nunca decifrados, mistérios dos “almoços de sexta-feira”, onde só entrava a task force do plantel, os portadores da mística. Para entrar nesse restrito escol, os mais novos tinham de merecer, lutar arduamente por um lugar à mesa. E o que eles corriam e lutavam para merecerem o convite… Era a mística em avaliação contínua!

À distância do tempo, se relembrarmos a constituição do plantel portista de então, poderemos extrapolar sobre alguns dos temas discutidos nesses almoços.

Há quem diga (e eu trago-o aqui porque conheci algum do trabalho de casa que os jogadores tinham) que um dos assuntos principais era o “relatório” sobre o árbitro do jogo seguinte: os seus medos, as suas virtudes e defeitos, aquilo a que era sensível no “relacionamento” físico com os adversários, os limites da contestação, as simpatias clubistas… Como se deslocava em campo (Sim. Já sei que algumas almas mal intencionadas estarão a pensar: ai os gajos… agora percebo por que algumas faltas passavam em branco… eles sabiam que o árbitro, em princípio, não veria). E qual o atleta escolhido para se dirigir ao árbitro quando fosse necessário impor-se alguma pressão. Só quando se tratava de José Pratas não se procedia a essa escolha, desse tratava – e bem – André!

Ficámos a saber que também se discutia a forma como Futre tinha de ser preservado fisicamente para poder manter, durante todo o jogo, os célebres “piques” que incendiavam a alma azul-e-branca e semeavam o pânico no adversário. Cabia a Quim “cobrir” as subidas de Laureta (o tal que mantinha, permanentemente, por cicatrizar a face externa dos membros inferiores, em nome da raça com que sempre entrava em todo o lado esquerdo da equipa portista, lavrando o relvado com próprio sangue – pode parecer exagerado, eu sei, mas não me coibi de laurear essa estirpe de defesa esquerdo, com alguns seguidores no clube), porque Futre estava “proibido” de vir atrás. Ele que fizesse o que sabia, e os outros, os do meio-campo, lá estariam para cobrir a retaguarda.

Claro que não se falou, por exemplo, do mito da mão de Quim a ajeitar a bola sempre que Celso cobrava um livre. Se não o fizesse, certo e sabido que Celso falhava!!! Agora, imaginem uma falta cometida sobre o Quim, o Quim não podia ser assistido sem que antes desse o abençoado toque na bola porque teria de sair do campo depois de assistido e solicitar a reentrada. Não dava tempo!

Deste programa e da restante informação do clube nesta estação se infere que um canal de televisão ligado a um clube pode defender os seus valores, revelar alguns dos seus segredos e algumas das suas estórias, guardados pela história, sem entrar pelo caminho ignominioso do insulto soez contra os adversários, sobretudo os mais directos.

Foi bom estarmos ali uma horita a ouvir falar do clube, sem uma única referência ao Benfica!

E, mesmo nos jogos da equipa B, que o “Porto Canal” transmite quando realizados no estádio de Grijó, ao colocar Bernardino Barros à cabeça dos comentários, a estação andou bem, prova de que se pode ser isento e ter lisura numa informação com matriz clubista. Bernardino Barros, com todo o peso do seu trajecto de jornalista desportivo, é o garante dessa isenção e dessa lisura. Se têm dúvidas, oiçam-no!

Júlio Magalhães, o regressado “Juca”, que preferiu recolher a casa e às origens para liderar este processo de entrada do FC Porto no mundo da televisão própria, mas com programação generalista e independente, vai por certo continuar a defender este aspecto, o único que serve a um clube que não quer um canal para guerrinhas de Alecrim e Manjerona ou para sublimar provincianismos: quer um canal para construir uma imagem (supra-)nacional dos valores de um clube que soube crescer, emancipar-se, e que, finalmente, quer vender a sua marca num estádio superior ao dos adversários. A liderança tem de ser integrada, cada vez em mais áreas de intervenção. Defender o que é nosso tem sempre um preço elevado. Demasiado caro para perder tempo com rastos menores de exacerbações que a nada conduzem, a não ser ao ridículo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O hóquei em campo está de luto




Faleceu uma das figuras de referência do hóquei português. José Estêvão Vasconcelos Machado foi um dos maiores lutadores que a modalidade conheceu, e deixou-nos ontem. Não tivesse falado recentemente com o filho, o vice-presidente reeleito para o executivo da FPH, José António Machado, e a notícia ter-me-ia apanhado ainda mais de surpresa. Mas, por entre lágrimas de saudade antecipada, o Zé António disse-me que o pai estava em estado terminal e só se aguardava o desenlace final.
Mesmo assim, hoje de manhã, ao abrir a minha página do facebook, a notícia estava lá, o escudo da Federação a negro. Não conseguimos nunca, mesmo que seja esperado, encarar a morte doutra forma, que não esta: o enorme vazio que fica quando parte alguém que nos marcou. Mesmo que, por fé, acreditemos na vida eterna, mesmo que, por amor à poesia, encaremos que esta partida é uma libertação da lei da morte, como escreveu Camões. Somos humanos, e esta marca indelével de fragilidade acompanha-nos e revela-se, exactamente, em momentos como este, em que o desconforto de mais um lugar vazio na nossa vida se confirma.
José Machado era um homem de convicções. Um lutador. Um homem recto. Tinha sonhos enormes e, felizmente para a modalidade, muitos se concretizaram. A variante indoor foi praticamente introduzida em Portugal por ele, a par de José Nora, que lhe conferiram uma nova identidade. Com eles, esta variante passou a ser respeitada como a grande hipótese que tínhamos de fazer crescer a modalidade, ainda sem campos condignos para a sua prática na variante de campo. Então, se não tínhamos essas condições, havia que fazer a formação num piso onde os mais jovens atletas tivessem condições mais próximas dos outros, os de lá de fora. E os frutos apareceriam: José Machado tinha uma fé enorme no atleta português e nas suas características inatas, o resto teria de ser feito através do trabalho.
Só um sonho ele não terá concretizado, apenas porque os jogos políticos neste país, refém de alguns autarcas sem palavra, podem mais do que a vontade dos cidadãos. Esse sonho nunca concretizado, mas para o qual José Machado trabalhou denodadamente durante anos e anos, foi o do complexo desportivo da Federação, que chegou a estar em projecto para Matosinhos. Vi muitas vezes os seus olhos a faiscarem, enquanto mostrava as novas amostras de relvados sintéticos, entretanto recebidas na FPH, ou quando passeávamos amiúde pelo espaço onde seria – acreditava ele – instalado o complexo.
José Machado foi um dirigente de eleição. Nem sempre estive de acordo com ele, no campo da dialéctica defrontámo-nos diversas vezes com muito fervor e algum furor, eram os tempos em que quase tudo tinha de ser feito e cada um defendia os caminhos e posições com a força e denodo que Deus nos emprestou. Claro que a sua experiência e o meu respeito levavam sempre a melhor, eu estava ainda a aprender e reconhecia-lhe o grande mérito de lutar por algo a quem ele já dera tanto, eu só queria ser capaz de fazer metade daquilo que ele já tinha feito. E era entusiasmante, eram vivas as reuniões nesse tempo em que não havia tempo para discutir o sexo dos anjos: o tempo urgia!
Do seu percurso, como atleta, treinador e dirigente, ficarão para sempre ligados o Vilanovense, o FC Porto, o Sport, a Associação de Hóquei do Porto (de que foi Presidente) e a Federação portuguesa, de quem recebeu, em 1988, a “Medalha de Dedicação”. Não tivesse sido polémico, não tivesse posto sempre o dever à frente das palavras com que defendia a sua modalidade, e, por certo, como outras figuras, teria recebido outras condecorações do hóquei. Mas ele, para quem a ambição era o crescimento da modalidade contra tudo e contra todos, nunca poupava nas palavras nem subtraía nos adjectivos, razão por que foi muitas vezes apodado de controverso, por isso mesmo problemático para outros dirigentes que, sem servirem tanto, se serviram mais.

Ao Zé António, que sei estar num momento particularmente sensível, ele que tinha no pai o seu grande modelo, o meu abraço solidário e inteiro. À restante família, os meus respeitos nesta hora difícil.
Estamos todos, os do hóquei e seus indefectíveis admiradores, mais sós, hoje, nesta manhã fria que ainda mais nos arrefece a alma.
Fica em paz, José Machado. Vai em paz, José Estêvão Vasconcelos Machado.

domingo, 11 de novembro de 2012

ISABEL JONET, PROF. PINTO DA COSTA E BREIVIK




A recente polémica contra Isabel Jonet e as suas declarações, ditas controversas, atingiu o paroxismo. Um paroxismo todo português, alimentado por quem, à laia de não ter mais com que se entreter, passa os dias e as noites a insultar quem, ainda, faz alguma coisa útil pela sociedade, quem, no fundo, ainda consegue ter uma atitude cívica e de mérito, manifestamente a favor dos mais desfavorecidos e perseguidos pelos erros de alguns que se atrevem a ignorar aquilo que fizeram para que a sociedade portuguesa esteja no estado em que está.
Foi demasiada estupidez e hipocrisia, juntas.
As declarações de Isabel Jonet até podem ter sido desafortunadas. Mas, naquele contexto redutor em que todos vamos caindo em sociedade, o de considerar infeliz a manifestação da verdade quando dói.
E com custos elevados!
Lembro, neste momento, as declarações do Prof. José Eduardo Pinto da Costa, quando, após o desastre da Ponte de Entre-os-Rios, informou que as pessoas deviam habituar-se à evidência de haver cadáveres do desastre que jamais apareceriam, o trabalho social deveria ser, então, o de preparar as famílias para essa contingência de não poderem fazer normalmente o luto.
Infelizes declarações, na visão de algum povo e dos políticos, despoletou a muito mais infeliz destituição do cargo que Pinto da Costa exercia para o Estado.
Mas a verdade aí está: a maior parte dos cadáveres não apareceu e as pessoas continuam indefesas perante a inevitabilidade de não poderem enterrar os seus, não podendo ultrapassar o luto.
Neste país, então como agora e sempre, é proibido dizer a verdade, sobretudo se a verdade for dolorosa. Ou antipática.
E, como não aprendemos as lições, há que demitir a Dr.ª Isabel Jonet em nome de uma certa hipocrisia de alegados valores morais.
Às tantas, aqueles que pugnam por estas destituições, são os mesmos que consideram coitadinho um tal Anders Breivik, norueguês e assassino confesso, que vem agora lamentar-se, numa carta de 27 páginas, de que a prisão de Ila, onde cumpre pena, não responde às exigências do seu “mérito” assassino, apesar de a sua “habitação” prisional ter três divisões: quarto, escritório e ginásio. Só que S. Ex.ª não quer viver numa prisão que “abriga alguns dos mais perigosos homens” da Noruega. Mas o que é ele senão um dos mais perigosos “homens” da Noruega?!
Ele, que matou indiscriminadamente dezenas de jovens, em gesto inconcebível e hediondo numa sociedade de valores, queixa-se ainda de que as condições da prisão “violam os direitos do homem” porque a manteiga é pouca, o café chega por vezes frio às suas “distintas” mãos e as algemas que tem de usar em certas transferências são “muito afiadas”…
Deste coitadinho temos pena! Muita pena, vítima que é da sociedade.
Aos que ainda fazem alguma coisa pelo bem comum ou dizem a verdade que temos de ouvir, embora seja aquela que não desejássemos por ser incómoda, demitimo-los ou assassinamo-los moralmente. Com a maior desfaçatez e falta de carácter.
Que infelizes!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Viva, Sr. Ministro das Finanças!



Não sou adepto da teoria da conspiração. Os políticos, no entanto, parecem querer que eu abjure esta minha teoria. Refiro-me ao que acabo de ler: o tabaco de enrolar será o mais penalizado na escalada de impostos, mais ainda do que os charutos. Porque se trata de uma fuga em frente dos mais pobres, que já não têm dinheiro para comprar um maço de tabaco ao preço normal, parece cruel. É a ressurreição do aumento do IVA sobre material desportivo, excepto o do golfe!
Como comentário, apenas o que li, algures, noutros tempos que julguei definitivamente afastados: “É medida de destaque / para ganhar alguns cobres / lançar imposto ao traque / que é o piano dos pobres”. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mais um tiro no pé do futebol português





Há atitudes inexplicáveis na vida. Desculpam-se, muitas vezes, com a juventude de quem as toma; ficamos atónitos quando elas partem de quem é responsável pela imagem de uma instituição e onde a juventude deixa de fazer sentido como ressalva.
A imagem insólita de um árbitro caído por terra, depois de um empurrão de um “armário” como é Luisão do Benfica, espanta pela crueza de um gesto irreflectido de um capitão de equipa, embora não creia que a “agressão” fosse de molde a explicar tanto espalhafato. No entanto, quando não contamos, um simples toque pode desencadear um desmaio momentâneo. E, se há coisa com que um árbitro não conta, desde logo num jogo particular, e porque está concentrado a olhar o cartão amarelo que vai exibir, é que lhe caia o céu – ou o inferno – em cima.
Arrumada a questão com a suspensão do jogo, entram em cena outros intérpretes da “verdade” circunstancial.
Confesso que, por princípio, duvido de pessoas que vendem a alma e os ideais. Se um sindicalista se passa para a trincheira do patrão, como se, por exemplo, Carvalho da Silva aceitasse um convite para administrador de uma grande empresa, eu tenho desde logo de duvidar dos ideais que alegadamente defendeu durante os tempos em que apenas pareceu defender os trabalhadores. Ele passou a defender o patrão, por certo a troco de uma subvenção assinalável, atendendo que está no topo da indústria do futebol no país.
António Carraça, pelo que disse do árbitro, conquistou o direito de ser considerado ridículo. E estou a chamar-lhe ridículo com todas as letras e todos os acentos, tónicos e átonos.
Em vez de pedir desculpa, em nome do atleta e do clube que lhe paga, atirou ainda mais achas para a fogueira, apelidando de patético o comportamento do árbitro alemão agredido. Não entendem estes agentes desportivos que, defendendo a violência, estão a abrir a porta a que essa violência se institucionalize?
Há muitas formas de ultrapassar gestos e atitudes, sobretudo se se fizer com verdade. O primeiro passo é reconhecer o erro. Branquear a atitude de Luisão é ir pelo caminho errado. É defender a violência no desporto.
Para finalizar,  uma pergunta: sendo Luisão um atleta experiente, com muitos anos de competição ao mais alto nível, o que o levou, num jogo que não contava para nada e em que o cachet da participação já estava depositado na conta independentemente do resultado, a cometer erro tão crasso? Será que este gesto tem por detrás outros contornos, reveladores do estado de espírito do Benfica para a próxima Liga? É assim tanto e tão grande o desvario que se plantou na equipa ao ponto de já nem o capitão saber comportar-se? A época ainda nem começou e já se nota que algo está a mais na cabeça dos jogadores do Benfica? Até que ponto o treinador Jorge Jesus é também responsável? Ou Luís Filipe Vieira? Terá Luisão escolhido este momento para revelar ao mundo o (seu) desconforto no seio do grupo de trabalho? E o que revelam as gargalhadas de escárnio de atletas e do próprio Jorge Jesus, nos momentos seguintes ao insólito, com palavras ditas de boca tapada mas com evidente gozo? Que falta de decoro e de classe!
Uma coisa é certa: quem verdadeiramente sai beliscado com esta imagem é o futebol português. Fora só o Benfica e eu estaria placidamente gozando no sofá. Mas esta imagem também me diz respeito como português!

sábado, 28 de julho de 2012

Mais uma acha




Relvas foi flibusteiro, como terá sido Sócrates e Armando Vara. Ponto.

Mas talvez seja da idade a circunstância de cada vez me lembrar mais do passado. De repente, dou comigo a reviver momentos marcantes da minha história pessoal, quanto mais antigos mais nítidos.

Daí, o ficar cada vez mais cínico face a certos senhores da minha idade ou ligeiramente mais velhos e mais novos que, arvorando-se em salvadores da honra académica, deram consigo a bater desalmadamente no senhor Miguel, a assinar e propor petições, a exigir.

Ora vamos lá por partes. Quem entrou na Universidade na década de setenta, quantas cadeiras fez por passagem administrativa? Uns acabaram cursos, outros apanharam-se sem saber ler nem escrever como pré-finalistas, finalistas. Outros, com menos sorte, aproveitaram, vá lá, o primeiro ou segundo anos desta forma.

Lembro-me de que dois dos meus mestres, nessa idade de conquistas revolucionárias, foram várias vezes ao meu emprego (completei o liceu e entrei na faculdade como trabalhador estudante) com o argumento de que era estúpido eu não aproveitar a maré: "Matriculas-te, basta isso, e fazes os três anos que te faltam para a licenciatura sem um exame. Claro que tens de ir a umas AG de alunos, fazer umas vigílias, participar em RG... Mas isso é o menos, apareces, sais com umas palavras de ordem, tu até tens jeito para falar em público". E, cumulativamente, poderia aproveitar, se a mama secasse, o facto de ter feito o serviço militar para usufruir de épocas especiais de exames, penso que de dois em dois meses poderia requerer exame a uma cadeira (penso que sim, mas não sou peremptório; se não eram dois, eram três).

E quase me seduziram, não fossem os princípios. Sim, naquela idade, os meus sonhos eram revolucionários, mas de outra índole. Era mais de paixões do que de sensatez. Sempre gostei de viver com independência, pela minha cabeça (que nem sempre regulou bem, convenhamos, e me trouxe alguns problemas ao longa da vida), e a ausência de regras funcionava para mim como a permissividade na formação de um adolescente, deixava-me frágil, desprotegido. Feitios!

Nunca fui "Dr.", mas hoje, vítima dos abusos do poder dito democrático e da sua ausência de coerência, penso que este país merecia que eu tivesse dito "sim" e teriam de me pagar, hoje, não a parcimoniosa pensão que aufiro, mas uma reforma para aí do triplo ou quádruplo, que, graças aos meus pais que me fizeram assim e a Deus que me deu a bênção, não sou de deitar fora em termos de competência, capacidade de trabalho, sou plurifacetado para diversos misteres, e com inteligência suficiente para ver as coisas de forma expedita e tranquila.

Não quis ser naquelas circunstâncias e daquela forma (estúpido, penso eu, hoje, destituído de todo o romantismo), socorro-me desta veia e desta memória para me rir um pouco das manigâncias de uns espertalhões que ainda estão a pensar nas coisas e eu já a ver como elas vão acabar. E estou-me marimbando (perdoem-me o termo, mas, se Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro pode usar termos deste léxico de cordoaria, eu também posso) para os títulos de pacotilha, para as resmas de tratados, aleivosias de académicos, centenas de milhares de licenciados que nem escrever sabem. Je me fiche pas mal.

Mas, como tenho a puce à l'oreille, gostaria de ver o registo académico de, pelo menos, vinte a trinta por cento dos que criticaram o Senhor Miguel. Ressalvo aqui as honrosas excepções de muita boa gente que o fez em defesa de valores superlativos. Será que os seus lustrosos títulos académicos não chegaram para lhes fazer ver que, pelo facto de criticarem um pacóvio megalómano, um provinciano com a mania das grandezas - tal como Relvas (o Miguel), também Sócrates (o José) e Vara (o Armando), entre outros, sofriam deste complexo de inferioridade intelectual e de chico-espertismo -, conseguem branquear a sua própria história ou mascarar os seus complexos saloios?! Ou, simplesmente, ficaram enraivecidos (ou raivosos) por não terem descoberto a pólvora ou o ovo de Colombo?!

E, sim, por mais despudorados que sejam os nomes que me atirem à laia de insulto pelo que escrevi, só me insulta quem eu deixo. Estou-me olimpicamente borrifando para quem se esconde atrás da azia para atirar pedras à história. Far-me-ão lembrar aqueles da "segunda circular" que se entretêm a insultar os dragões que vão papando títulos com a serenidade de quem escreve pelas suas mãos - e não à sombra do regime - o futuro. Ainda que com erros de percurso! Pecados de circunstância! Mas o poder conquista-se assim.

... E a caravana passa!

domingo, 15 de julho de 2012

Domingo de manhã, no vendaval de pensar


Sou um leitor contumaz. Perco-me nas palavras por prazer intenso, ainda que pouco metódico, para me encontrar no tempo, depois da síntese das emoções desaguadas, dos sentimentos vertidos ou dos factos espargidos no papel. Realidade ou ficção.
Não nutro preferências, embora elas me apanhem desprevenido tantas vezes, e dou por mim a bater à porta das literaturas emergentes com a lucidez de quem procura o impossível e sempre o encontra.
Neste momento da vida, em que diluo dias e noites em letra de imprensa, feita de sentimentos abertos ou mero desassossego, deambulo pela literatura estrangeira, talvez à procura de uma catarse, tentando entender todos aqueles que, por dever, prazer ou subsistência, afogueiam a existência a traduzir a língua dos outros. Ou à procura de um caminho, intrinsecamente iluminado num simulacro de revelação, mística e profana, por aquela espécie de guião que li algures: "Quem não vai a lado nenhum já está perdido!". Ou estoutro: "O que o homem não inventa para pensar menos".
De facto, enquanto leio, não penso. E essa ausência metafísica alimenta esta abulia, esta atávica indolência, dá força e músculo a esta preguiça de, não pensando, não ter de escrever. Mas eu quase só sei escrever! Não sei se bem se mal. Há quem embandeire o meu talento, eu sei, mas nada me diz que não seja por não entender que o meu género é este, o de estar na vida sem rumo, ainda que apaixonado, como um asceta que se esconde no vazio porque está demasiado cheio de ideais e de loucura. Ou, simplesmente, sofre de agorafobia.
Cheguei àquela fase de anamnese em que rejubilo com a recuperação do passado, mas temo que a anomia (como desorganização interior) acabe por se transformar em anfibologia, tomada aqui como um aglomerado de proposições que não passam de equívocos, e fico estranhamente ansioso por me ter perdido dos meus arquétipos, Platão ou Jung.
Como gostaria, no entanto, de poder dizer: finalmente, a ataraxia! Mas será que a absoluta tranquilidade existe? Serei um estóico à procura da finalidade última? Ou um autista caótico que se perdeu porque não consegue sair de si próprio, porque não consegue tomar em consideração o mundo exterior (ou, tão só, conviver inteiramente com ele)?
Sim, sou absolutamente incapaz de axiologia, apesar de todos os cânones que me imponho para iludir, concupiscentemente, o cinismo. Cheio de conotações, apenas.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mas as crianças, Senhor




Diz-nos o jornal PÚBLICO, citando o Projecto EU Kids Online, que Portugal é o “país europeu onde mais pais expressaram preocupações com os riscos online: 65% preocupam-se com contactos de estranhos e 61% com conteúdos problemáticos”.
Seria um belíssimo índice se, por outro lado, o mesmo jornal não referisse que um relatório do Conselho da Europa alerta que “há crianças portuguesas a emigrar para trabalhar por causa da crise”.
Ainda no mesmo periódico, podemos ler que o Tribunal Judicial de Santa Maria da Feira, face ao “arrependimento” de um abusador de menores, condenou o acusado a cinco anos de prisão com pena suspensa, uma vez que o colectivo de juízes considerou, com o aplauso de Ricardo Sá Fernandes, advogado de defesa, que a “ameaça de prisão realiza de forma adequada a finalidade da prisão”.
Belíssimo conceito da filosofia do direito, revoltante para quem sabe como funcionam os predadores sexuais.
Valham-nos, por isso, os versos de Augusto Gil, na Balada da Neve, se é que as palavras belas e os sentimentos genuínos podem, ainda, minorar a nossa revolta:
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!”

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sem mais comentários!


José Mourinho para o Presidente
JORGE NUNO DE LIMA PINTO DA COSTA 

Quando recebi o convite para escrever umas palavras e com elas participar nesta merecida homenagem ao Senhor Pinto da Costa, senti-me lisonjeado e, passada a surpresa e após refletir, senti-me também orgulhoso por ter tido participação direta em dois desses 30 anos de presidência que agora se celebram.
É, todavia, difícil para mim escrever algo sobre o Senhor Pinto da Costa, escrever algo que já não tenha sido dito ou escrito por algum dos que tiveram o privilégio de com ele trabalhar diretamente. Este Senhor, pelos seus inúmeros e incríveis talentos, poderia ter sido com sucesso aquilo que quisesse. Decidiu ser presidente de um clube de futebol, o clube do seu coração e, nesse papel, foi escrevendo uma história da qual não se conhece ainda o fim, mas que é uma história fantástica, a história do Grande Presidente da História do Futebol Português.

Enquanto treinador do FC Porto, um dos momentos marcantes que ali vivi foi a inauguração do novo estádio, um estádio que, como sempre pensei, deveria levar o seu nome, mas que acabou por se chamar Estádio do Dragão. Na altura discordei, discordei silenciosamente, como assim era exigido pelas minhas funções e também porque - como nunca escondi - não nasci portista e nunca carreguei comigo esta proteção.

Anos mais tarde e na sequência das reflexões que faço sobre a minha carreira e tudo aquilo que a rodeia, cheguei à conclusão de que, afinal, o nome do estádio era perfeito. Estádio do Dragão! E porquê? Porque Pinto da Costa é o Dragão! Pinto da Costa é a mística. Pinto da Costa é a alma. Pinto da Costa é o estratega. Pinto da Costa é o Futebol Clube do Porto. E que me desculpem aqueles que discordarem, mas quando Pinto da Costa disser que se acabou, o FC Porto não mais será o mesmo.

Na semana que se seguiu à final da Taça UEFA, estava eu de saída, estava Deco de saída. Chamou-me e sentou-se comigo. Perguntou-me se não sentia que poderia ganhar a Champions... Como sempre, acertou na "mouche". Tocou-me no orgulho. "Míster, prometo que só vendemos um jogador e que não será o Deco. Prometo que lhe daremos outro em sua substituição e que será o míster a escolher." "OK, Presidente! Vendemos o Postiga e vamos buscar o McCarthy."

O Homem sabia que eu não poderia virar as costas a um desafio e tocou-me na ferida. Fiquei mais um ano. O Homem tinha razão, podíamos ganhar a Champions. Agradeço-lhe por esse poder de persuasão, pela inteligência com que o usou, algo apenas possível nos eleitos. É que tal como há um grupo de eleitos entre os jogadores, entre treinadores, também há um grupo de eleitos entre dirigentes. E aqui, Pinto da Costa ocupa seguramente, a nível mundial, uma posição no topo.

Há muito tempo que não tinha a oportunidade de enviar um abraço de amizade, sentido, a todos os portistas e de lhes dizer que os anos passam, mas que jamais me esquecerei daquilo que vivemos e conquistámos juntos. Está dado e está dito. Quanto ao Presidente - aquele abraço de Parabéns!

JOSÉ MOURINHO

PS. Publicado sem edição

Assim se escreve em bom português!!!!


15:38 - Futebol - Espanha
Barcelona oferece cheque em branco a Guardiola

Segundo a televisão autonómica da Catalunha, a TV3, o Barcelona ofereceu um cheque em branco a Pep Guardiola para que o treinador define-se o valor que acha justo para continuar como treinador dos atuais campeões de Espanha e da Europa.
Guardiola e o presidente blaugrana, Sandro Rosell, estiveram ontem reunidos em casa do técnico durante três horas, sendo opinião geral da comunicação social de que estará perto o fim da ligação do treinador com o clube. Segundo adianta o jornal madrileno, Marca, Guardiola comunicará amanhã a decisão aos jogadores
, ndia do regresso do plantel aos treinos depois da eliminação na Champions.

(OJogo online, 27 de Abril)

Assim se escreve em bom português!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Escusam de perguntar onde eu estava no 25 de abril...


O dia 25 de Abril é para mim uma data especial. Começou a 24 de Abril de 1974, ao princípio da tarde de um dia que parecia igual a tantos outros no quartel, começando por uma ordem unida no dealbar da manhã e continuando com umas aulas tácticas fora do quartel.

Saídos do almoço na messe, o passa palavra foi iniciado, instrução ministrada pelos cabos milicianos, reunião de oficiais e aspirantes em sítio a combinar...

Tudo muito discreto, ninguém desconfiou, nem o Capitão Calado, os olhos do regime.

Então, era assim: estava em movimento um golpe, bem mais preparado do que a intentona das Caldas, um mês e uns dias antes, estivéssemos atentos até às 23 horas e, se os Emissores Associados de Lisboa colocassem no ar o Paulo de Carvalho com "E depois do adeus", era para ficarmos em alerta máximo, tudo preparado para receber ordens rápidas de acção.

Podem imaginar o estado destes jovens militares, sobretudo a maioria dos de Abrantes que se sabiam mobilizados, mudando a antena para a Rádio Renascença e  aguardando ansiosamente a segunda senha.

A transmissão de "Grândola, vila morena", do Zeca, desencadeou, então, a mais promissora das noites, prenúncio da mais promissora vigília activa.

Não importa, agora, com 38 anos em cima, extrapolar sobre os acontecimentos, eles são do conhecimento público, viraram completamente o sentido de uma Nação e de um Povo, embora algumas tentações futuras acabassem por ensombrar o orgulho dos que participaram nesta aventura sem par.

Por isso, o 25 de Abril me diz tanto, mau grado as circunstâncias actuais. Avesso a protagonismo, gosto de ficar entre as gentes, fecho os olhos aos acordes, só eles me interessam juntamente com esse burburinho de povo nos meus ouvidos. O resto é aproveitamento, dos discursos aos cravos nas lapelas de tantos a quem o 25 de Abril apenas lhes diz algo porque lhes trouxe benfeitorias, riqueza, protagonismo, poder, visibilidade, mordomias...

Para além disso, nesse dia, e penso que ainda não falhei mesmo em 2007 quando vivi em Luanda, compro sempre um livro onde coloco o ano, apenas o ano porque a data eu sei bem!

Ontem, no Porto, seguindo um périplo pela baixa que sempre me conforta a alma, fui desaguar na estação de São Bento e na Estação dos livros. Sim, sou muito de alfarrabistas, penso que sempre sonhei escrever e ter uma loja de alfarrábios, receber os clientes em amenas tertúlias, acumular e fazer circular os clássicos e os menos modernos, aqueles que vamos esquecendo. Assim, não os esquecíamos. Os que estão na berra serão esquecidos mais tarde. Ponto!

Apanhei um comboio até Campanhã e, no final de duas horas de folheio, tinha comprado por 16 euros três livros.

O primeiro, Kimalanga, de FBaião, aliás o angolano Fernando Teixeira, uma divertida viagem rápida ao mundo do enriquecimento dos antigos militantes, guerrilheiros ou comissários políticos, às suas amantes e desvios ideológicos, aos carros e negócios, comissões...

O segundo, escrito por Pierre Bayard, "Como falar dos livros que não lemos", que mereceu da London Review of Books este saboroso comentário: "Brilhante... uma peça de sociologia literária útil e espirituosa, concebida para trazer paz de espírito duradoura às almas escrupulosas que ficam ansiosas quando, à sua volta, o assunto "falar-sobre-livros" se torna demasiado específico".

O terceiro, escrito pela romancista Thaisa Frank e pela poetisa Dorothy Wall, chama-se "Vocação de Escritor" (descubra, desenvolva e eduque a sua vocação literária).

Por isso, se, dentro de alguns meses, lhes cair nas mãos um livro com o meu nome e reminiscências da África que consegui conhecer do Atlântico ao Índico, se for um livro ligeiro e mordaz, responder aos cânones da estilística e for tão abiográfico que seja o mais biográfico dos livros, então agradeça ao 25 de Abril ou, simplesmente, invective-o! Se não lhe cair nas mãos esse livro, então, agradeça a Deus por me ter dado esta preguiça boa que me ensina todos os dias: "Trabalhos tenha quem trabalhos me quer dar!"

Eu, por mim, que já acabei de ler o Kimalanga (são 117 páginas, já com o glossário e o índice), estou meio estendido junto à janela, deixando entrar esta amostra de sol quentinho enquanto escrevo este blogue e ganho apetite para o lanche, que peixe não puxa carroça e, daqui a pouco, estou com fome!

terça-feira, 24 de abril de 2012

à margem de um gesto e de um fórum


Mário Soares não vai estar presente nas comemorações do 25 de Abril deste ano. Ao arrepio de todas as criticas que já li e de outros comentários a verberar quem criticou a posição do político, devo dizer que Mário Soares tem legitimidade, como cidadão, de participar naquilo que lhe aprouver e onde lhe convier. Como ex-Presidente e ex-Primeiro-Ministro, que continua a viver, de forma sibarita, à custa do erário público, que, para além de lhe pagar as mordomias, ainda lhe salda as multas por desvarios de velocidade e outros pecados mais ou menos confessáveis, Mário Soares já não pode, por capricho, eximir-se a certas presenças. Noblesse oblige.

Mário Soares pode não gostar deste Governo. Muita gente boa não gosta! Mas, que me conste, as comemorações nada têm a ver com o Governo, decorrem na casa de democracia onde se sentam todas as correntes políticas portuguesas. Por respeito a socialistas, comunistas e outros esquerdistas, Mário Soares, não fosse por mais nada, deveria respeitar quem ainda acredita nele como um dos grandes barões da democracia.

A mim, Mário Soares pouco me diz ideologicamente. Talvez porque ele enterrou – ou guardou na gaveta - todas as ideologias que nos vendeu durante a longa noite. Mas respeito a disponibilidade democrática que emprestou (parece que, de facto, nunca deu, no sentido bíblico, nada a ninguém) ao país. Mas o país pagou-lhe de volta com juros, deu-lhe estatuto, motorista, carros, poder imenso e, até, uma Fundação! E até lhe permite diatribes como esta de se dar ao luxo de faltar à comemoração do dia que lhe trouxe o paraíso. A Mário Soares até lhe é permitido, com louvores vários, morder na mão que o sustenta e ampara os seus vícios de homem rico. Logo, o Dr. Mário Soares deve ao País o respeito que, pelos vistos, não é o seu forte.

Recuso-me a comentar aqui outros estádios do seu percurso político, menos abonatórios. Não gosto é de ler comentários como os do fórum do Expresso sobre Ricardo Costa quando disse que esta ausência era "Um dos erros políticos mais graves de Mário Soares". Alguém, entre muitos outros, que pratica ou metaforicamente insultaram o jornalista, escreveu, então, que “O Dr. Mario Soares tem toda a legitimidade e direito de comparecer onde muito bem quer e onde se sente bem, é a ele que voçe deve o fato de estar em liberdade de imprensa e de opinião, é a ele que voçe deve toda a sua pompa trabalhista, é a ele que voçe deve o fato de fazer comentários inuteis e inoportunos” (transcrito sem edição…). Que me conste, quando Portugal acordou na alvorada de Abril, ainda o Dr. Mário Soares estava fora do país, limitando-se a regressar para herdar uma democracia de que haveria de servir-se ao longo destes 38 anos. E, mesmo quando marchou contra os comunistas, ainda estou para saber se, não tivesse sido o Almirante Pinheiro de Azevedo, a grande marcha teria vingado. Como mais tarde, se não tivesse sido Ramalho Eanes, será que ainda tínhamos democracia, mesmo com Mário Soares?!

É conhecida alguma tentação para se reescrever a história no sentido de salvaguardar a imagem de alguns senadores e branquear alguns dos seus actos políticos mais controversos, transferindo a responsabilidade para outros. Mas, se hoje estamos na mão da Europa e do seu dinheiro é porque vultos como Mário Soares nos encaminharam para este pesadelo da soi disante Europa unida, ou União Europeia. E foram alguns dos seus herdeiros – a quem deu cobertura – que transformaram este país naquilo que ele hoje é, corrupto e decrépito, sem honra na sua história e com um presente envenenado por uma casta de gente que apenas se preparou para subir nas costas e na boa-vontade do povo, aproveitando-se da sua ingenuidade e falta de memória (Ah! Foi Mário Soares que o afirmou: o povo não tem memória…).

Sim, estou revoltado! Trabalhei quase quarenta anos, participei na revolução (era oficial miliciano aquando do golpe), obrigaram-me, em Moçambique, a participar numa descolonização com a qual não concordava (não fugi como tantos outros “revolucionários”, desses que faltam aos seus deveres institucionais, para o exílio, fiquei por cá, aguentei a ditadura e os seus efeitos, lutei aqui pela liberdade apesar dos perigos, não desrespeitei a minha bandeira), estudei a trabalhar para poder subir na vida e poder ter uma aposentação digna, e o que me fizeram?!

Sim, estou revoltado!

Sei que não devia! Faz-me mal à hipertensão, à diabetes, às maleitas a cujo tratamento é cada vez mais caro chegar. Por culpa de quem? Talvez minha por ter tentado ser um cidadão!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dispersando sem violência...


Se é verdade que devemos aprender com os antepassados, porque não reactivar o costume nas manifestações convocadas pela Intersindical?!

Obrigado, Catarino, pelo envio.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Farsantes


Um sacripanta (porque bissectriz de dois catetos a que em alemão poderíamos chamar Schuft -patife e Scheinheilige - beato) de um ex-governante socialista nesta área da Segurança Social, um generoso deputado comunista, uma apócrifa (ninguém se chama Mariana Aiveca) deputada do Bloco de Esquerda e alguns outros sindicalistas (a Senhora Aiveca pertence também aos quadros directivos da Intersindical) produziram declarações sobre a recente deliberação do Conselho de Ministros, consubstanciada em normativo legal, de suspender as "reformas antecipadas" aos trabalhadores abrangidos pela (beneficiários da) Segurança Social. Desta feita, os funcionários do Estado escaparam, porque ao Estado interessa que se vão reformando, em nome do sacrossanto mandamento que ordena o emagrecimento da Administração Pública.
Que me recorde, quando o executivo de Sócrates impôs tal medida, praticamente por um prazo idêntico de ano e meio, mais mês menos mês, não vislumbrei tal sanha iconoclasta. Não recordo e, não obstante, fui vítima dessa medida sem poder fugir-lhe, ainda que já me parecessem justos e legítimos os argumentos agora utilizados, sem que ninguém, no entanto e à altura, tivesse pugnado nas instâncias próprias por esses argumentos, fossem deputados, sindicalistas e afins, governantes e governadores, ou Presidente da República, que, tal como agora, se limitou a promulgar o diploma, não tão à pressa e à socapa como há dias, como se tivesse consciência de que estava a assaltar-nos e convindo que já não dava para mandar sofrer mais. Assaltava-se, e pronto! Sem dor! Sim, porque se trata de um assalto!
O que parece, entretanto, diferente nas críticas a esta última medida é que a grande preocupação dos políticos me pareceu ser a da publicidade, mais do que sonegação de um direito.
Tocaram ao de leve nessa sonegação, por dever de ofício (noblesse do cargo e de estatuto oblige), mas onde vertem toda a sua imensa, caudalosa e inqualificável raiva é sobre o silêncio (leia-se secretismo, segundo a nomenclatura PS) do Governo, no comunicado e na conferência de imprensa que se seguiram à reunião do Conselho de Ministros onde se decidiu esta medida atentatória dos direitos de quem passou uma vida activa de trabalho a descontar os seus impostos e a fazer as deduções para os esquemas de alegada segurança social, e se vê, inopinadamente, preso à política assassina de um certo capitalismo selvagem, agora e sempre desrespeitador, porque sempre protegido pelos poderes, e onde quem paga a crise é também quem paga, em trabalho, os Mercedes, os Hummers, os BMW e os Porsche dessa gente auto-intitulada de empresários... Os mesmos de sempre donos do capital passam incólumes pelos seus investimentos de risco, os seus peculatos de especulação em especulação. Ou não houvesse um povo inteiro a quem sugar mais uns cobres!
É por isso que esta casta ma enoja. Carregados de vaidades, cheios de privilégios, arrivistas que nunca fizeram mais nada do que puir calças nas cadeiras das sedes partidárias, estudar palavras caras e cultivar ideias redondas para comícios, insultar a boa-fé do povo, ascendem na política e nos interesses pessoais ao sabor da sua arrogância, da sua ambição desmedida. Fruto dessa práxis, cometem erros jacobinos, peregrinos, usam aventais em reuniões secretas e influências às claras, e, quando dá para o torto, escondem-se atrás da sua impunidade e vão para Paris cultivar o esquecimento e preparar o regresso.
Nesse capítulo, o da luta pelo poder e, depois, pela sua manutenção, são todos iguais: nenhum mais sério que o outro, apenas o tom muda. Já não podemos fazer contas, as novas gerações entram - quando entram - no mercado de trabalho sem saberem o que lhes reserva a vida, os descontos que fazem e os impostos que pagam. O mais certo é irem cair no poço sem fundo da incompetência dos políticos, eles que, em matéria de gula fiscal, são - até nisso - idênticos. Entre uns e outros, venha o diabo e escolha!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Quem tramou João Gobern?




Num país e numa sociedade como aqueles em que vivemos, é possível que fórmulas de programas como a "Zona Mista", onde pontificavam Bruno Prata e João Gobern, funcionem junto do público. Admitiu-o o próprio João Gobern, horas depois de ser dispensado; admito-o eu, que não sou tosco relativamente às virtudes e defeitos do meu povo.

Devo dizer que, jornalisticamente, não morro de amores por qualquer deles. E estranhava, até, que João Gobern fosse convidado de outros assados, ele que era essencialmente de bola e afins. Mas, se o Sr. Queirós também fala, na mesma antena, de política e sociedade (ou também fala de desporto), porque não João Gobern?!

Mas a notícia da demissão (demissão, não, carago, dispensa) de João Gobern prende-se com outra realidade: João Gobern era senhor de um mau gosto atroz. Nos trapos, esclareço! Era mesmo uma dor de alma! E é claro (evidente, pois claro!) que o mau gosto nos trapos se estendia a outras vertentes: já não lhe chegava ser muito mau a vestir, tínhamos ainda que saber, desta forma aviltante, que João Gobern é do Benfica e que os meus impostos lhe pagam para festejar os golos dos vermelhos em direto, em pleno programa.

Ora, se a porta da rua é a serventia da casa, andou bem a televisão pública em dispensar este senhor, dito jornalista? Se fosse apenas pelo gesto, acho que uma penitência e alguns açoites teriam bastado. Não se é infeliz por se querer, pode até ser um fardo difícil de suportar! Coitado do senhor! Sabe-se lá o que este marmanjo terá sofrido nos últimos anos, já não lhe teria chegado esse castigo?!

Outra coisa é falarmos de incompetência. E incompetência a dobrar, ou a multiplicar por mais! Primeiro, porque é inábil, ele que pretendia ser habilidoso na forma como, em jogo alegadamente combinado, contestava o Bruno, e vice-versa. Desde logo, porque ter um gesto destes em público é mau profissionalismo; depois, porque vestir daquela maneira em televisão, e logo na de serviço público, é um péssimo exemplo (mas há outros exemplos piores e, que se saiba, os seus mentores e autores, e atores, não foram demitidos (desculpem, dispensados); a seguir, porque para participar em programas em que se assume o clubismo na sua forma mais bíblica, há outros programas em televisão, não carecia de fazer figuras destas no "Zona Mista"; finalmente, ou talvez não, porque o senhor João ofendeu este país de opereta ao assumir, contra o sistema, as suas opções. Já devia saber que, para sobreviver, teria de fazer de conta, como tanta vez mostrou no programa. Foi um falhanço inadmissível, quase tão grande como ser benfiquista!

Bem, vou confessar: durante muitos anos, fiz jornalismo. E custa como o caraças (perdoe-se-me o termo, mas, já que estamos a falar de mau gosto, quero acrescentar o meu bocadinho para personalizar a coisa...) ser isento quando ali, à nossa frente, o nosso clube, do coração, da alma e de todos os momentos perde golos atrás de golos, falha oportunidades atrás de oportunidades, e a gente só a poder fumar (ainda se podia em recintos fechados), obrigados a mantermo-nos equidistantes na informação... não, não imaginam o que é, vocês que podem saltar, pular, gritar, insultar o árbitro... por isso, reverto para Camões e para o canto nono de "Os Lusíadas": "Milhor é experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não pode experimentá-lo."

Ora, certa noite, jogava-se um Porto - Deportivo da Corunha no Pavilhão das Antas (ainda não era Dr. Américo de Sá nem Pinto da Costa era ainda presidente), penso que uma meia-final da Taça dos campeões europeus de hóquei em patins. Entre outras coisas, escrevia eu para o jornal "O Porto", órgão oficial, sobre esta modalidade e, nessa noite, sentado junto à vedação do recinto de jogo, esperava que virássemos o resultado negativo da Galiza. Não me perguntem quem era o árbitro, já lá vai uma vida, mas sei que era italiano. O Porto não ia lá, nem com Cristiano. E Daniel Martinnazzo continuava a chatear a defensiva do Porto. Até que, a poucos segundos do fim, três ou quatro... pois! Não, não fiquei impávido exteriormente e com o coração aos saltos... Todo eu fui um salto, por dentro, por fora, para os lados, para dentro do rinque (alto aí, para dentro do rinque, não, que exagero...).

É por isso que João Gobern tem toda a minha simpatia de adepto, a minha antipatia de portista convicto e militante, a minha solidariedade de português que já soube o que é ser dispensado (ou demitido, tanto faz) por ter opinião e fazer opções, mas, que diabo, onde é que, Senhor João, estava com a cabeça? Eu estava no Pavilhão das Antas, escrevendo para o órgão oficial do clube, estava em jogo uma final da taça dos campeões europeus contra a Espanha, não estava num programa na televisão de serviço público, falando supra partes, como dever deontológico...

Ou será que alguém tramou João Gobern, ele que era a enésima vez que fazia aquilo?! Pensando estar em casa, entre os seus, enganou-se! Deixe-me dizer-lhe, senhor João, com amigos desses, quem precisa de inimigos?! Mas também não era necessário ter saltado para o relvado, que foi o que fez ainda que metaforicamente, mas com toda a energia e falta de bom senso.

Eu, por mim, pode crer, até o desculpo. E compreendo que não tenha aguentado mais 92 minutos da sua vida sob o espetro de mais dois pontos perdidos. Eu já soube, felizmente há muito tempo, o que isso era!


PS. Hoje, não sei o que me deu! Talvez por estarmos a falar de mau gosto, escrevi este blogue segundo a ortografia do novo AO. Que estupidez!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Humor de terça-feira


Para além de irrecusável bom gosto literário, Miguel Sousa Tavares ainda cultiva esse bom gosto em outras áreas: é portista, dos não alinhados mas de gema, e “opta por escrever as suas crónicas na ortografia antiga”. Deus o salve, mau grado algumas injustiças que, em outros tempos, proferiu contra a classe dos professores, numa daquelas guerras que nunca entendi da sua parte. Ou não fossem todas as guerras incompreensíveis, porque, liminarmente, sectárias.

Vem esta do bom gosto á colação de, não sendo unanimista relativamente à figura e outras figuras de MST, comungo com ele em outras situações, desde logo a de ser portista e a de escrever em Português (havendo quem lhe chame, falaciosamente, Português europeu, PT-PT, ou outro qualquer epíteto, eu teimo em chamar à ortografia em que escrevo, simplesmente, Português).

Sou fã incondicional das suas crónicas, mesmo quando torço o nariz durante a sua leitura, e a NORTADA faz parte dos meus devaneios de terça-feira. Tanjo a sua prosa e o humor verrinoso com que chicoteia alguns da praça do futebol, sobretudo se a coerência não é o seu prato mais forte ou, apenas, não faz parte da sua ementa jornalística.

Apelidar de “comovente” o rol de asneiras de Fernando Guerra, o cronista da “página ao lado”, é brilhante e nunca me teria passado pela cabeça denominar comovente uma patetice jurássica daquele tamanho (não se trata de chamar arcaico ao Fernando Guerra, antigo sou eu… honi soit qui mal y pense). Talvez por não me passar pela cabeça uma palavra tão “comovente” para tal prosa é que MST é quem é, filho de quem é, vende o que vende de literatura, de ficção e de ideias, e eu, pobre de mim, filho do Quim Carrelo e da Alzira, dita dos Rabanhos de Sousa, apenas possuo esta amostra de blogue com sete seguidores, que nem mesmo sei se são de verdade, se existem, se têm prazer em segui-lo ou o fazem por caridade evangélica, se são manifestos ou manifestações virtuais, hologramas de outros “eus”, também eles “filhos de algo” como eu, mas sem a nobreza e a paternidade literária e bíblica de MST, que lhe permitem dizer e escrever o que bem lhe apraz, sempre com seguidores e muitos “esclarecidos” invejosos.

E quem, como eu, leu a seguir a crónica de Fernando Guerra, em que, pela enésima (para sermos parcimoniosos) vez, faz apelo aos “bloqueios jurídicos e sublimes conclusões” do Apito Dourado (para quê e porquê, não entendo, já ninguém leva a sério essa conversa anquilosada, nem o inefável responsável pela comunicação do Benfica), entende perfeitamente que MST ainda disse poucas, dizendo tanto num só adjectivo, do seu parceiro de crónicas.

Quase tão bom como MST, só mesmo Luís Afonso, responsável pelo “Barba e Cabelo” da mesma edição de “A Bola”, quando põe na boca do barbeiro, esta brilhantíssima conclusão sobre o monumento às conquistas do Benfica em 1961 e 1962 (é só fazer as contas…): “Temos um monumento às descobertas, um aos restauradores da independência, porque não havemos de ter um ao Benfica campeão europeu?”.

Em semana da Paixão, para não agudizar – ainda – mais a crise, estes singulares e deliciosos pedaços de humor enchem a alma de um cristão… dragão!

segunda-feira, 26 de março de 2012

A mulher de Jonim Mendonsa, minha prima


Sabe-se lá porquê, a minha prima Lita tem de apelido Mendonsa. Assim mesmo, com “s”, que lhe adveio do marido, ele também emigrado nos States até se passar, já lá vão muitos anos.
Viviam numa cela, como dizia, no que para nós, portugueses de Portugal, era uma cave, e tinham por vizinho um airicho (de irish, está-se mesmo a ver), consumidor inveterado de bias, que partilhava com Komrij, um docha, seu único parceiro habitual, agora que Jonim Mendonsa partira para o outro lado da vida, na versão daqueles que – ainda – acreditam no Além. Os outros terão dito que entregou a alma ao Criador, se são crentes, ou, caso contrário, terão afirmado, ainda que incorrectamente, que foi para debaixo da terra. É que, de facto, foi para cima da água: Lita mandou-o cremar e espalhou as cinzas no mar, do exacto local em que foi concebida a filha mais nova numa madrugada de luar e apetites, daqueles a que não conseguimos negar a evidência e a vontade.
Lita tem duas filhas e três netos, perfeita e completamente assimilados, mas que ainda, aqui e ali, mostram que a língua portuguesa não foi totalmente afastada das suas vivências americanas, colorindo-a, entretanto, com neologismos e outras corruptelas semânticas.
E, se as mães fazem senhoras americanas e os pais têm em conjunto uma marqueta de utilidades, os filhos frequentam a escola alta, são amigos com americanos da sua idade, chamam, em vez de telefonar, duas vezes por dia, as mães, que, por hábito, os chamam para trás, ou seja, lhes devolvem as chamadas, não raro dos telefones da casa das patroas, comem galinha frisada, em vez de congelada, enjoiam os fins de semana em longas sessões familiares de carne no charcoal e bia na frisa, gastam as suas dólares em discotecas de tamanho orgulhosamente americano e donde saem tantas vezes colapsados, trimam uns buxos para ganhar uns extras, são humorosos e fazem o seu melhor para que a sociedade não os mace demasiado com suas leis.
Continuam a festejar as crismas, porque é a festa da família. Gostam de se imaginar futuros bisneiros, ou bossas grandes, eles que são cerasinos, ainda que netos de calafonas.
Lita não clama da vida, lambuza-se com o seu açucrim e agradece a Deus alguma chança na vida (nunca foi ambiciosa), a saúde que nunca lhe deixou, as crianças também saudáveis, os dias fora, sempre passados em família. Agora, que fez o ritaia, e que salvou o suficiente para uma velhice calma e pacata, continuará a viver sem dificuldades de maior.
Mas gostava de voltar, diz-me. Tem um certo receio dos cada vez maiores perigos com gangas, importa-se com isso e com os netos. Pensa mesmo que o sangue alto, única maleita que a tomou, é fruto dessa preocupação. Dessa e com o tenente da cela que acabou por manter e alugou. Está velho o San-Payo, não tem escola, nunca foi de salvar, mal paga o mês… melhor mesmo era preencher as formas para a alferes (welfare, beneficência pública, apresta-se a esclarecer) e, porque a mediqueta, apesar de tudo, não trabalha mal, Lita pode vir descansada, vendido, ainda que em baixa, o beisemento.
Assim as filhas entendam!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Também V. Ex.ª, Sr. Presidente da Liga?!

Muita gentinha e alguma gentalha continuam a pensar que meter-se com o Futebol Clube do Porto, diretamente ou por vias travessas, é o código postal para subir de nível nos bastidores ou no palco do futebol.
Ainda não perceberam, tal como o treinador do Benfica não percebeu há semanas, que esse caminho só conduz a um fim: a união do grupo de trabalho. Pôr em causa o clube é acicatar os instintos mais puros dos atletas. Provocar o bom nome da instituição é autocondenar-se à derrota. Que o diga Jorge Jesus!

Mas nem assim!
O Dr. Mário Figueiredo, que ainda não entendeu como chegou ao poleiro, é mais um dos que pensam que meter-se com os dragões vai trazer-lhe dividendos. Estulto, mais um!
E, depois, ficam com cara de Cristos dos Aflitos, a ver bandeiras azuis e brancas a comemorar mais um título... Será que não existe oposição inteligente ao F.C.Porto?

 Já nos bastava que não existisse na política oposição inteligente para acicatar o governo. Também no futebol estamos condenados a um passeio anual pela Liga sem ninguém que se acautele inteligentemente e nos bata o pé? É que com estas virgens ofendidas, estas vacas sagradas da verdade - deles - desportiva, estes atores de ópera bufa, não vamos a lado nenhum.

PS. Alguns me dizem que devia deixar de escrever à volta do futebol, que o futebol não passa de um espaço redutor sem interesse, que estou a perder-me por estes lados. Perdoem-me esses, mas, para mim, ainda que com peneiras académicas, não há melhor espelho sociológico do nosso país do que este fenómeno, alegadamente desportivo, manifestamente uma área de negócio. Ele é o espelho de - quase - todos os nossos complexos atávicos, da inveja ao clientelismo, passando por praticamente todos os escaninhos e alguns paradoxos.

Foi o frio

Recebido por email(por isso, sem qualquer adenda ou correcção): "o plano de exterminação" "Está a correr muito bem. 3000 idosos mortos em 5 dias...é obra que se veja, 3000 idosos x 350€ (ou menos) de pensões poupa-se 1.050.000€...nada mau, Foi o frio. Não tem nada a ver com os baixos rendimentos destes idosos, nada a ver com o custos da energia com a qual se deveriam aquecer, nada a ver com a crescente inacessibilidade aos cuidados médicos, nada a ver com o alto custo dos medicamentos. Foi o frio. Matam-se 10 manhosos nas estradas por via de manobras perigosas e excessos de velocidade, saem as televisões em direto e os jornais em diferido a dar conta de tamanha catástrofe. Legisla-se a favor dos vendedores de pneus, aumentam-se as coimas, investe-se em viaturas e radares para as polícias. Morrem 3000 portugueses vítimas das condições terceiro-mundistas em que viviam, abusados por garotagem sem escrúpulos que os roubou de tudo o que tinham..., e nem um pio, Foi o frio..."

domingo, 4 de março de 2012

O princípio de Peter

As famílias Queirós pululam na imprensa portuguesa. Escrevendo, falando, opinando, eles estão sempre por aí com todos os timbres de opinião existentes nas longas famílias. Um deles, que já foi director, é opinion maker na televisão estatal, costumo ouvi-lo a falar sobre desporto.

Foi o caso da manhã de hoje, referindo-se ainda às declarações de Jorge Jesus no final do F.C. Porto - Benfica.

Dizia ele, na sua doutíssima e esclarecidíssima opinião, que Jorge Jesus não pode e não vai ser castigado porque as suas apreciações ao árbitro auxiliar contêm a mesma carga verbal das do treinador portista em outra ocasião, mas visando também um árbitro.

Ora, se bem recordo, nunca o treinador do F.C. Porto afirmou que o árbitro, ou qualquer dos seus auxiliares, prejudicou voluntariamente a sua equipa. E o que Jorge Jesus disse é que o árbitro auxiliar viu e não quis assinalar, ou seja, deliberadamente roubou os vermelhos.

Que me perdoe o douto comentador, mas insistir que são semelhantes as declarações de Vítor Pereira ou que coincidem com as de Jorge Jesus, fazem-me pensar, se eu fosse capaz de entrar por aí, que se trata de uma afirmação "encomendada", que o aludido Queirós é o mensageiro de alguém que covardemente não dá a cara. Só que não vou mesmo por aí... Tratar-se-á tão somente de atavismo natural e meramente redutor, e a esse nem a televisão pública, paga pelos contribuintes, parece imune. Aliás, lembrando o princípio de Peter, onde cada um é promovido até ao limite da sua incompetência, eu entendo as razões por que a televisão pública continua tão mal gerida em alguns sectores de opinião ou de informação. É que há famílias completas de menos competentes a ilustrar a filosofia do Senhor Peter.