quarta-feira, 15 de julho de 2009

NÃO SEI SE VAIS PODER FICAR HOJE

Corri atrás
Emaranhei no sonho
Persegui
Troquei olhares
Desencadeei emoções
Enchi-me de sombra
Embebedei-me e sofri
Repeti porquês

Fui amante virtual
Encontro de ocasião
Morada de telemóvel
Amigo de copos
Confidente de corações

Padrasto e pai
Filho e enteado
Wonderful love
Mon amour du coeur
Bastard I hate you

Te quiero mucho
Desgraciado te mato
Doce de coco
Água do mar
Infinito e caduco

Escrevi poemas em corpos maduros
Dei-me, fundi-me, fui e vim
Permaneci só porque não encontrei
E se encontrei não quiseram
Quem quer ser poema hoje
Fundir-se em rimas e sentir-se estrofe
Ser modelo e despir-se de enredos
Arrancar a máscara e ficar nua
Soltar o cabelo e entregar-se
Ser livro e deixar-se ler como quem ama
Ser pauta e clave e música e compasso

Não sei porquê
Deitei-me com o sol esta madrugada
A viagem à capital foi longa de hiatos
E risos e noite e copos e olhos verdes
E amigos e não vás e fica porque vais agora
E vim com a luz a despertar no horizonte
E quis deitar-me e não pude o sono voara

Porque hoje são as últimas linhas que escrevo
A última música que oiço, os últimos sentidos que verto
Amanhã, mais um ano terá passado
- Parabéns a você, estás muito bem
- O bigode quase branco é que destoa
- Gosto desse teu ar de poeta excêntrico e irreverente
- Não acredito, são mesmo cinquenta e alguns
Ainda ontem trocávamos beijos às escondidas
Jogávamos à cabra-cega, ao mata,
Soletrávamos juntos a palavra amor
Jurávamos paixão até á morte e continuamos vida

E estamos juntos, é verdade
Quando tu e eu fazemos anos
E temos necessidade de jurar de novo
Pelo menos até ao ano, na minha ou na tua
E há sempre amigos novos desse ano
Que olhamos com ciúme
- É muito interessante a tua amiga
- Onde desencantaste este, agora, que me bebe o whisky todo
E vamos ou ficamos conforme a casa
Ou foram todos e ficámos

- Amanhã vais conhecer uma nova amiga
Traz sóis no cabelo, mel no poema
Ideais e sonhos a realizar
- Gostas dela? Como a conheceste?
- Gosto dela, não a conheço, mas acalma-me
Traz-me vidas, reconheço a sua voz no vento
Faz-me acordar
- Não sei se vou gostar, traz-me perigos
- Não vamos discutir, tu chamas-te simplesmente solidão
- Por isso mesmo... Não gosto de ser incomodada
Se quiser ficar, quero ficar
- Então fica, mas deixa-me ver o mar... Quero barulho
E sal e água e nevoeiro e luz e chuva.


Não sei se vais poder ficar hoje...

1 comentário:

  1. Pelo menos já sei que encantas-te com olhos verdes...já os mencionaste em dois poemas...mas tua Gala(a de Dali) não é a solidão...

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