quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Por falar em absolutismo

A práxis absolutista do Primeiro-ministro continua a fazer escola.

Iluminados, por inspiração divina, como divino é o poder de que foram investidos, os socialistas leram bem a cartilha de Luís XIV, esse “Rei Sol” que não se coibia de afirmar: “Aprés moi, le déluge”.

Nada nem ninguém se lhes compara!

Depois de tudo o que foi dito e feito – ou esquecido – pelos profissionais políticos do PS, a arrogância continua a ser a sua maior virtude. Arrogância, pesporrência, bazófia, pedantismo. Sinónimos paulatinamente conjugados pelas excelências do poder.
Ora, quando alguém lhes bate o pé ou levanta o véu dos seus pecados, ei-los a bramir “fatwas”, condenando ao inferno os infiéis.

Vimos isso com Sócrates, Maria de Lurdes, Mário Lino e, agora, com Carlos César. Incomodado com o “chumbo” do Tribunal Constitucional ao Estatuto Político-administrativo dos Açores, que o Presidente da República Cavaco Silva já vetara, foi aos arames, deixou cair o verniz, e há que vociferar contra tudo e contra todos.

Afirmando que não recebe “lições de portuguesismo” de nenhum titular de órgãos de soberania, referindo-se ao mais alto Magistrado da Nação e ao Presidente do Tribunal Constitucional, institucionalmente o garante da constitucionalidade da Nação, há que dizer que Cavaco Silva é um histórico inimigo da regionalização e lá foi ajuntando que não desistirá de lutar por um melhor estatuto.

O homem estava colérico, gaguejava… embora a sua voz melíflua mascarasse a raiva.
"Não temos medo de defender uma autonomia mais forte e aprofundada porque não recebemos lições de portuguesismo de nenhum juiz, nem de nenhum titular de qualquer órgão de soberania"…

Bem dito… “Toma lá, que é democrático!”

Claro que podíamos responder com o célebre “o que tu queres, sei eu” do comediante que eternizou este chavão.

Têm dúvidas? Então leiam:
"O que vale a pena agora não é discutir mais este assunto, mas concentrarmo-nos nas eleições legislativas para garantir um governo que nos continue a defender e uma maioria que proporcione um processo de revisão constitucional onde seja possível resolver as dúvidas e as insuficiências que agora se colocaram a propósito da revisão do Estatuto", defendeu.

Terminando, Carlos César haveria de confirmar: "a votação no PS é a resposta adequada a essas contrariedades".

Livra!
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Post-scriptum: Luís XIV é ainda hoje a imagem do absolutismo, o seu maior vulto. Mas, como quase sempre acontece, não foi ele que foi executado… Alguém pagou os seus pecados. Foi Luís XVI. Ele que, afinal, com a convocação dos Estados Gerais, 175 anos depois, tentava emendar os erros do passado. Não foi a tempo.

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