Confesso que não detenho qualquer reserva moral sobre as grandes transferências do futebol.
Não critico, por isso, a incrível transferência do Cristiano Ronaldo.
E não alinho com os entediados e entediantes “opinion makers” que se escudaram numa controversa hipocrisia e adiantaram a crise como base de uma posição crítica, falaciosa como todas as opiniões de quem apenas pensa que sabe tudo de tudo e sabe quase nada de muito pouco.
Quanto mais vivo estiver o mercado mas vibrátil será a economia.
E, se Zidane custou 75 milhões de euros há uma série de anos atrás, esta badaladíssima transferência do Ronaldo é capaz de ter sido bem mais barata que a do franco-argelino. E, que me recorde, nem um décimo dos constrangimentos foram expandidos por essa altura. Porque era francês?
Então, por ser português, o “nosso” (quando se lembra de fazer umas corridas com a camisola das “quinas”) rapaz não tem o mesmo direito à felicidade que os outros?
Uma coisa é certa: a transferência vai obrigar a que as televisões tenham de pagar mais pelas transmissões dos jogos do Real Madrid, vai dar a ganhar dinheiro a umas centenas de milhar de pessoas em todo o mundo (31 milhões de camisolas do CR9 são muitas camisolas), vai fazer girar mais milhões de direitos… para além de uns biliões de contrapartidas financeiras que nem eu imagino que possam existir.
E, sendo o futebol o desporto/indústria mais importante do Universo, por que razão há-de um jogador de beisebol ganhar mais do dobro do futebolista que vai ser o mais bem pago do globo?
No fundo, trata-se, apenas, de uma aproximação do negócio do futebol a outros negócios, ditos desportivos, bem mais apetecíveis. E isso não pode ser mau!
E as próprias férias milionárias do rapaz, à mistura com as pernas exemplarmente nuas da Paris Hilton e com as suas poses escancaradamente cúmplices, já estão a render frutos ao próprio clube. Nunca se falou tanto do Real e isso rende! Milhões de títulos, milhões de notícias, milhões de fotografias, milhões de comentários e muitos milhões de expectativas representam uma incontornável fonte de paixões que fazem girar o mercado global do futebol mediatizado.
Até aqui, tudo bem, nada a dizer!
O único “parti pris” (tomado como preconceito) prende-se com o facto de Cristiano Ronaldo se ter tornado, com esta transferência para o mais mediático dos clubes de futebol, num mero agente económico ou, por defeito, num mero actor desta gigantesca máquina de transformar artistas em hologramas (atenta a definição como um “registo, em chapa fotográfica, dos efeitos da sobreposição de duas ondas emanadas da mesma fonte luminosa, uma directa e outra reflectida pelo objecto fotografado, o que dá uma ilusão de relevo, quando iluminado por um feixe de raios laser” – Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora).
Mas com essa imagem pode ele bem!
Ou não fosse principescamente (mais do que isso) pago para interpretar esse papel de marioneta!
Ou, como ele diz no anúncio do BES, instituição que também paga principescamente o seu holograma, “não sei onde estarei daqui por três anos, mas sei onde estará o meu dinheiro”…
José Mourinho, que, de marketing desportivo conhece como poucos, é que tem razão: “Se o Manchester está feliz, se o Real Madrid está feliz, se o Cristiano Ronaldo está feliz, eu também estou feliz”. E ele sabe do que fala porque é o mais bem pago treinador de futebol do mundo.
E o que compreendem da praxis de macroeconomia desportiva os milhares de críticos?!
Ou de hologramas?!
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