Procuradoria-Geral entende que livro não justifica uma investigação
O antigo internacional Fernando Mendes alegou num livro biográfico que o recurso a substâncias "dopantes" ilegais foi recorrente no futebol português durante a sua carreira, mas a Procuradoria-Geral da República entende que não há motivos para investigar.
Questionado pela Agência Lusa, o gabinete de imprensa da PGR respondeu que "até agora, não se encontram motivos para abrir inquéritos com base no livro do ex-futebolista Fernando Mendes".
Noutro caso, as declarações de Carolina Salgado, num livro que escreveu sobre o seu convívio com dirigentes do FC Porto, levaram à reabertura de inquéritos, como o caso de agressão a um ex-vereador da Câmara de Gondomar.
Sem apontar nomes, locais ou datas concretas o ex-defesa esquerdo, de 42 anos, dedica dois capítulos da obra às suas histórias com o doping e outros 11 ao seu percurso no Sporting, Benfica, Boavista, Belenenses, FC Porto e Vitória de Setúbal, à família, à selecção nacional e aos primeiros passos como treinador.
"A primeira versão apontava nomes, locais e datas dos momentos mais sórdidos que aqui são relatados. Infelizmente, o clima de medo e de censura instalado no futebol português tornou impossível juridicamente que essas mesmas pessoas fossem expostas, deixando esse primeiro livro condenado a viver numa gaveta", justifica.
Nas passagens dedicadas ao doping, o actual treinador conta como as coisas se passavam, mas sempre sem identificar clubes ou pessoas.
"Havia jogos em que entrávamos no balneário e perguntávamos ‘Onde está o 'milho’?. Pouco depois, aparecia o massagista com uma bandeja recheada de seringas para dar a cada um dos jogadores. Parecíamos galinhas de volta do prato, à espera da nossa vez: obcecados com a poção mágica que nos ajudava a correr mais do que os nossos adversários", refere.
Fernando Mendes refere ainda a presença de “mulheres” nos estágios da selecção nacional e o recurso ao doping numa das suas 14 internacionalizações, com a ajuda de um médico e um massagista do seu clube, a seu pedido, e "sem que ninguém” se tenha apercebido.
"Faço uma primeira parte fantástica, mas ao intervalo começo a sentir-me cansado e tenho medo de não aguentar o mesmo ritmo na segunda parte. Decido, por isso, pedir ajuda a um profissional conhecedor de estimulantes (...) Estão lá um médico e um massagista de um clube onde jogo (...)”, conta.
A acção deu-se ao intervalo: “(...) Peço a esse médico para me dar uma das suas injecções de doping. Saio do balneário da selecção, sem que ninguém se aperceba, e entro numa salinha ao lado. É aí que esse médico e o seu massagista me dão a injecção pedida por mim", sublinha, adiantando "o efeito é praticamente imediato".
Sem comentários:
Enviar um comentário